segunda-feira, julho 09, 2018

Felicidade como hábito

Começo por dizer que ontem o meu filho recebeu da Áustria um estojo com uma tesoura, com imensos acessórios de corte, muito giro. Mas não é por isso (pelos objectos diferentes e interessantes, que nunca me passaria pela cabeça comprar) que eu oriento as coisas de modo a que, de vez em quando, ele receba correio. Faço-o porque é importante que ele interiorize que, por esse mundo fora, há imensa gente generosa e simpática, capaz de gastar tempo e dinheiro com desconhecidos, só porque sim.

De resto, é quase obrigatório socorrer-nos de desconhecidos, para continuarmos a acreditar que podemos sair dos rótulos, que tão leviana e facilmente a sociedade nos atribui, e simplesmente sermos quem quisermos ser, sonharmos o que nos apetecer sonhar.

O meu filho quer ser realizador, quando crescer. Hmm, na verdade, se ele soubesse que eu acabei de escrever isto corrigia-me de mediato: «cineasta, não realizador». Não sei bem porquê, mas ele acha que os cineastas podem mudar o mundo. É um sonho tão válido como outro qualquer, que tanto eu como o pai valorizamos.

Hmm… no dia da mãe, o meu filho escreveu que eu era mágica. Bem, posso confessar que isso me deprimiu um bocadinho? É claro que eu sei bem que ele estava a dizer a verdade, é a visão dele. Naturalmente não foi isso que me deprimiu. O que me deprimiu foi o facto de saber que já são poucas as vezes em que eu ainda sou capaz de ter uma visão mágica do mundo… e que se isso ainda acontece é por ele, para que ele preserve a sua visão mágica.

Neste contexto, poderia substituir a palavra mágica por inocente, traduziria de igual modo uma visão sem rótulos, capaz de ver as coisas tal como elas são e não apenas como foram catalogadas e ensinadas.   

Questão: como é que se mantém uma visão mágica ou inocente do mundo? Talvez esperes uma resposta complexa, mas é muito simples: é preciso aprender a gozar a vida, a fazer da felicidade um hábito.

Entre outras coisas, fazer da felicidade um hábito dá-nos, a pouco e pouco, a capacidade de ver para lá da aparência das coisas, desenvolve a nossa sabedoria e a nossa espiritualidade.

Se a felicidade não for uma das características mais marcantes do desenvolvimento do nosso eu transcendente, talvez seja porque não o estamos a desenvolver de verdade…  ;)

31 de Maio de 2018.


Sem comentários: