quinta-feira, outubro 24, 2019

Batata coração.

Hoje, ao descascar as batatas para o jantar, encontrei esta belezinha pequenina, a lembrar Agnès Varda e o seu filme Les glaneurs et la glaneuse, E, mais do que isso, a recordar-me o amor imenso que colocamos nas pequenas coisas. Trouxe-me também à memória um episódio com o meu filho, ainda muito pequenino, a acusar a avó de que ela não cozinhava com amor. E quando ela quis saber por que razão ele dizia tal coisa, ele limitou-se a acrescentar: «porque a tua comida não sabe bem!».

Assim, entre outras coisas, fiz um bolo de chocolate com muito, mesmo muito amor. Hmm, está uma delícia! ;)


Voar...

Sim, bem sei, só os pássaros com a mesma plumagem voam juntos, mas isso não quer dizer que tu voas sozinho. Na verdade, tu nunca estás sozinho, pois aqueles que amaste ou que amas estão sempre, sempre contigo.

Por favor, não te esqueças, mesmo se uma das coisas que te põe triste é que não exista o que não existe, como dizia o poeta… mesmo nesses momentos, não te esqueças que quem não ri e não voa contigo, não é teu amigo!

Metal Migration, by Michelle McKinney.


Mais pensamentos soltos...

Bom dia. :)

Hmm, por onde começo? Bem, o músculo da minha perna ainda não está bom. E, vê só, agora só consigo andar de saltos bem altos. Hmm, qual era a mensagem do universo, afinal?... ;)

Na verdade, não quero saber das mensagens do universo, importa-me o que eu quero!...

Ontem à noite, uma amiga desejou que os meus dias fossem leves. Respondi-lhe o seguinte:

«Minha querida, agora que penso um pouco mais nisso, bem, não estou muito certa de querer que os meus dias sejam leves… ;) Que posso eu dizer? Mais do que portuguesa, eu sou uma mulher do norte. Tenho a saudade na alma. Eu quero que os meus dias sejam intensos, duma felicidade transbordante, mesmo que também sejam, como na canção, um abismo antigo onde voar é abrir as asas e sangrar. :) Não te assustes, por favor, isto sou só eu a ser eu própria. ;) E, no fundo, entendo bem a beleza e a alegria desse teu dia leve… leve e puro, como diria a minha adorada Sophia, e livre como o vento… como o florir das ondas ordenadas. :) Não a lês, pois não? Sophia de Mello Breyner Andresen. Tão, tão maravilhosa! :) Hmm, o meu amado Fernando Pessoa também gostava do vento, dizia que às vezes ouvia passar o vento… e só de ouvir o vento passar, valia a pena ter nascido. :) Boa noite, minha querida, que os teus dias sejam felizes! :) »

Transcrevi este comentário, só para te dizer que é realmente isso que eu quero: que os meus dias sejam felizes!

Se queres mesmo viver, então deixa que invadam os teus sentidos como um sonho e que corram nos teus sonhos como uma sombra... sim, bem sei, são novamente palavras do Pessoa. Mas há tantas, tantas palavras dele na minha mente... Tanto de mim, que é dele. 

Que mais? Esta manhã, li uma carta que alguém me escreveu, a propósito do meu blog peregrinar. Como a carta estava em castelhano, não percebi tudo, mas sei bem que me insultou-me q.b. Ainda assim, fiquei deliciada. Disse-me que eu tinha ideias interessantes, mas que não as desenvolvia, que eu escrevia muito pouco, que não tinha nenhuma consideração pelos meus leitores. Foi isso, eu não sabia que tinha leitores e isso, por si só, fez deu ao café um gostinho diferente. ;)

Depois, não sei de todo porquê, deu-me para ouvir Wham!... Wake me up... 😲

Que queres que te diga? Eu também estou confusa. A minha mente está a reagir a isto de eu, agora, andar sempre de saltos altos, de um modo muito peculiar. O que quer dizer que possivelmente está tudo bem, uma vez que a minha mente reage de um modo muito peculiar praticamente a tudo. :P

Hmm, dançamos?... :)

Ok. Então, vou voar!... :P


terça-feira, outubro 22, 2019

Pensamentos soltos...

(A propósito de uma memória no face, que me mostrou um folar feito em 2017, no dia 22 de Outubro.)

Hmm... se eu fizer hoje um folar e fizer de conta que no ano passado, neste dia, também fiz um... bem, começo uma espécie de tradição, não? :P

Pois, até parece que eu não gosto de tradições, não? Ora, eu adoro velhas tradições, mesmo as que começaram de um modo tão absurdo, como a que acabei de referir.  ;)

Outono de 2017? Se bem me lembro, e eu lembro-me de tudo, nesse mês de outubro, eu queria, porque queria, que um amigo acabado de conhecer, cujo pai tinha nascido numa aldeia a escassos 3 km da minha, me permitisse mostrar-lhe a ele e à família aquele mundo. Um mundo onde as velhas tradições ainda são o que sempre foram. Um mundo misterioso e mágico, como dificilmente se encontram, muito dificilmente. 

Hmm, isto está a ficar um bocadinho aborrecido, até por se estar mesmo a ver que ninguém quer saber das minhas rotas de peregrinação pela paisagem, pelo corpo da minha tribo. E isso aborrece-me. Assim, acho que vou deixar o meu alter ego escrever por mim… :P

Pensas que o meu alter ego é uma miúda de 17 anos, que gosta de viajar pelas estrelas, certo? Achas? Não, na verdade é um gajo todo musculado, muito alto e loiro. Chama-se Fafhrd, não é nenhuma doçura, mas é um exímio e violento espadachim. :) Agora, por favor, não me digas que nunca leste Fritz Leiber, porque eu não quero saber nada de nada do que não leste.

:D

Música?... Na verdade, estou a ouvir a Quinta Sinfonia, de Beethoven. Hmm, o meu filho, quando era bem mais pequeno, uma vez disse-me: «põe aquela música assustadora!», para ouvir isto. Bem, como eu adoro esta música, que já não ouvia há imenso tempo. :)

Boa tarde. :)


segunda-feira, outubro 21, 2019

Quando o universo nos responde...

Esta manhã, deixei o meu filho na escola um pouco depois da hora, talvez para me esquivar a encontrar muitas das outras mães que se recusam a responder quando eu digo bom dia. Porque eu tenho lepra, naturalmente.

Hmm, que te posso eu dizer? Eu continuo a acreditar que quando olhamos directamente para o coração humano, o caminho abre-se à nossa frente e, de imediato, somos pessoas melhores. :)

Claro que posso sempre dizer que aquelas pessoas não me cumprimentam, porque não me conhecem. Mas, se quiser ser honesta, tenho que admitir que mesmo alguns daqueles que estão no meu coração, ficam por vezes irritados com a minha visão do mundo, com a minha honestidade, com o meu paganismo... e atiram-me com a inquisição espanhola. And nobody expects the spanish inquisition. Pois, mesmo quando está sempre a aparecer.

And shout out loud
I don't mind, I don't mind

Kongos, mais uma vez. Hmm, importar-me até que me importo, mas nem por isso deixo de ser quem sou. Bem, depois de deixar o meu filho na escola, não vinha a ouvir Kongos, era outra banda qualquer, uma música alegre e jovial. E, sem mais, sabe-se lá porquê, decidi questionar o universo. Queria saber se eu iria continuar a ser invisível para sempre. Queria saber o que eu poderia esperar dos outros.

Mal tinha acabado de formular a minha pergunta, quando o universo me respondeu.

Estava a atravessar uma passadeira, quando um carro que estava parado, para deixar passar outras pessoas, arrancou e me atingiu. O carro parou de imediato, um homem saiu e disse que não me tinha visto. Entretanto, apareceu outro homem que insistiu que a culpa era minha, que eu não podia andar na rua de headphones. Berrei incoerente, com eles, comigo própria, com o universo, desesperei, depois parei e fui embora a arrastar uma perna, literalmente.

And I know what I know
But I don't know what I know when I know it
And I hear what I hear
But I don’t know what I hear when I hear it
And I see what I see
But I don't know what I see when I see it

Não gostei da resposta. Lamento ter feito a pergunta, até porque eu sabia muito bem qual era resposta. Mesmo assim, estou chateada com o universo. Não sei o que esperava, mas certamente não era aquilo.

Hmm… numa manhã de Abril, em 2005, um carro também me atropelou numa passadeira, mas dessa vez foi muito pior. O carro atirou-me uns quantos metros pelo ar e eu aterrei de costas no asfalto. Mas não me lembro da queda, só me lembro do choque com o carro, do voo e, de repente, estar noutro lado. Tinha novamente 17 anos, estava deitada de costas na terra quente numa deliciosa noite de verão, olhava as estrelas. Mas aquele não era o mundo que eu conheci. Era um lugar absolutamente maravilhoso. Mágico. Ele estava deitado na terra quente ao meu lado, também olhava as estrelas. Ele não era o homem por quem eu estava apaixonada quando tinha 17 anos, mas eu sabia bem quem ele era, uma vez que ele frequentava os meus sonhos desde sempre. Mas tudo aquilo me pareceu demasiado real para ser um sonho e eu perguntei-lhe se estava morta. Ele disse-me que ainda não, mas que eu estava a morrer. De repente, a vontade absurda de não morrer tirou-me daquele mundo maravilhoso e eu vi-me a mim própria no meio da estrada. Havia várias pessoas à minha volta. E eu percebi que ninguém tinha chamado uma ambulância. Terá sido o horror desse pensamento que não me deixou continuar? Possivelmente. Havia uma pessoa que me custava mesmo muito deixar, mas aquilo era diferente: cada átomo do meu ser rejeitava veemente aquela indiferença. Eu não queria morrer assim, sem que tivessem qualquer compaixão por mim, sem a mais pequena assistência pelos seres humanos que me rodeavam. Ele continuava ao meu lado e perguntou-me se eu tinha a certeza de que queria voltar. Eu disse que sim. De repente, um pensamento igualmente assustador varreu a minha mente e eu perguntei-lhe o que me ia acontecer. Ele respondeu com outra pergunta, questionando o que eu queria que acontecesse. Nada, foi o que eu disse. De imediato, vi-me a olhar para cima e ele estava ali, à frente das outras pessoas. Ele olhou-me com ar divertido e disse-me: «tu nunca me agradeces, miúda». Sorriu e desapareceu. E eu senti uma tristeza como nunca tinha sentido, já não queria estar ali no meio do chão, sem sentir o meu corpo e com as pessoas, que me rodeavam, a falarem como se eu estivesse morta. Mas não estava morta e, algum tempo depois, pude mexer os braços, consegui falar e pedi um telefone. Chamei uma ambulância. Mais tarde, no hospital, quando me passou aquele torpor todo, constatou-se que eu tinha saído praticamente ilesa do acidente.

Hmm… eu sei disso, isto vai ser uma festa para inquisição espanhola. E daí?... ;)

Hmm... espero que a minha perna cure, em breve. É outono e eu quero dançar. :)



sábado, outubro 19, 2019

Rindo de mim própria.

Hmm, a ideia era escrever qualquer coisinha suave e alegre, só para manter o meu perfil calibrado. Mas, sem qualquer razão aparente, a minha mente trouxe-me Rabelais e eu fui à procura da lista de serpentes, em Gargântua e Pantagruel. E, agora, voltei. Aqui estou eu, ainda com muitos dos nomes, daquela estranhíssma lista, a aparecerem como pensamentos relâmpago na minha mente, enquanto penso naquilo que te vou dizer.

- Bom dia!

Não consigo deixar de me rir. De mim própria. Piedosamente. Copiosamente. Ruidosamente.

Nem o balsamozinho de ser sexta-feira parece socorrer-me. Preciso daqueles amigos que crêem. Ou daqueles que crêem crer. Ou mesmo daqueles que só parecem crer.

Caos. Eu sei. Mas é tudo relativo, depende da perspectiva. O caos para a mosca, é a ordem para a aranha.

alguém me disse isso ontem. Depois, bem, o meu dia piorou consideravelmente e a noite foi trágica. Voltaram os meus velhos pesadelos. E, esta manhã, acordei triste. Mas cada dia é, em si mesmo, único e irrepetível. E eu não quero que as minhas mágoas me impeçam de o viver. 

Sunrise, sunrise
Looks like mornin' in your eyes

A manhã já acabou, mas a voz de Norah Jones continua a ouvir-se, clareando o espaço dentro de mim. Hmm, quem seria eu, sem música?

Lembras-te de Parsifal e da pergunta que ele não conseguiu fazer? Que posso fazer por ti? É também essa a pergunta que, muitas vezes, nos esquecemos de fazer… hmm, eu não me quero esquecer. Nem quero ser outra. Quero continuar a ser eu própria, por mais mal-entendida que possa ser.

Bem, agora vou voltar ao meu bosque dos poetas, que possivelmente nunca concretizarei, mas que me deixa feliz, quando o imagino. Um negrilho para Miguel Torga, madressilvas para Eugénio de Andrade, um cedro para Khalil Gibran, um ginko para Goethe, um castanheiro para Yeats, uma romãzeira para Rumi… e muitas outras árvores para outros tantos poetas, uma floresta inteira para Fernando Pessoa.

Há um murmúrio na floresta,
Há uma nuvem e não já.
Há uma nuvem e nada resta
Do murmúrio que ainda está
No ar a parecer que há.

É que a saudade faz viver,
E faz ouvir, e ainda ver,
Tudo o que foi e acabará
Antes que tenha o que esquecer
Como a floresta esquece já.

Termino, assim, com um poema de Pessoa, com a voz de Nina Simone, em Feeling Good, com uma fotografia de um lugar que eu amo, com o desejo de que tenhas um bom dia e com um sorriso. :)






quarta-feira, outubro 16, 2019

Anedota com moralidade...

Uma noite, ela entrou num bar, no topo de um edifício e foi imediatamente abordada por um desconhecido bêbado, com um copo na mão, que lhe disse:
- Tens que provar esta bebida azul. É mesmo incrível. Faz-te voar!
- Fantástico - disse ela condescendente, enquanto tentava afastar-se dele.
- A sério! - respondeu ele e, com um sorriso enorme, acrescentou - deixa-me provar que é verdade!
De imediato, o desconhecido correu e atirou-se do edifício, reaparecendo pouco depois, a voar.
Convencida, ela dirigiu-se ao barman e pediu aquela extraordinária bebida azul. Esvaziou o copo de um trago e aproximou-se da beira do terraço. Parou, hesitou por uns segundos, riu, tirou a roupa e, sem mais contemplações, atirou-se do topo do prédio, nua e em direção ao vazio. Nesse instante, ouviu a voz do barman a repreender o desconhecido:
- Super-homem, tu quando estás bêbado és incorrigível!...
Já em queda livre, ela sorriu e disse para a escuridão à sua volta:
- Que importa? Até chegar ao chão é só rock' n' roll.

Hmm, passemos, então, à moralidade: a vida é uma anedota, há sempre alguém capaz de nos levar ao abismo, e nem precisa de razões, pode muito bem ser só pelo gozo, mas nós podemos sempre apreciar a experiência de estar vivo.
Apreciar cada minuto é tudo o que importa, quer haja ou não outro sentido.

La Nuit by Auguste Raynaud (1845 – 1937).


terça-feira, outubro 08, 2019

Under the milky way tonight…

Comecei por responder a uma grande amiga, que deixou esta música num comentário. Mas, de alguma forma, a pequena resposta transformou-se num post, possivelmente por razões misteriosas. Ou não. ;)

Esta música faz-me lembrar as noites quentes de verão, quando eu ficava longas horas deitada de costas no chão, a vaguear pelas estrelas. Tinha dezassete anos e estava apaixonada. Vivia um amor rebelde, intenso, absurdo. Não era um amor correspondido, mas como o encontrei num livro e, na verdade, ele tinha morrido muito antes de eu nascer, não me sentia propriamente rejeitada. Era algo para outra vida… ;)

Ele não trazia cor ao meu dia, mas dava profundidade à escuridão da noite, tornando a mais banal das noites em noite noitíssima, em que a profusão e a intensidade das estrelas nos impelem à viagem. Inicialmente, numa viagem em direção àqueles pontos luminosos que, quando nos deixamos realmente ir, rapidamente se torna uma viagem pela escuridão, pela vastíssima escuridão que é o verdadeiro corpo do universo. Uma escuridão livre, isenta da moralidade que os humanos insistem em lhe atribuir. Um aspecto do universo que é negro e fecundo como a própria Terra, onde podemos deixar germinar a semente que existe em nós. A escuridão que é o lugar de todos os sonhos.

Under the milky way tonight…

(Foto retirada do site Wonderful Places In The World, desconheço o seu autor.)