sábado, outubro 19, 2019

Rindo de mim própria.

Hmm, a ideia era escrever qualquer coisinha suave e alegre, só para manter o meu perfil calibrado. Mas, sem qualquer razão aparente, a minha mente trouxe-me Rabelais e eu fui à procura da lista de serpentes, em Gargântua e Pantagruel. E, agora, voltei. Aqui estou eu, ainda com muitos dos nomes, daquela estranhíssma lista, a aparecerem como pensamentos relâmpago na minha mente, enquanto penso naquilo que te vou dizer.

- Bom dia!

Não consigo deixar de me rir. De mim própria. Piedosamente. Copiosamente. Ruidosamente.

Nem o balsamozinho de ser sexta-feira parece socorrer-me. Preciso daqueles amigos que crêem. Ou daqueles que crêem crer. Ou mesmo daqueles que só parecem crer.

Caos. Eu sei. Mas é tudo relativo, depende da perspectiva. O caos para a mosca, é a ordem para a aranha.

alguém me disse isso ontem. Depois, bem, o meu dia piorou consideravelmente e a noite foi trágica. Voltaram os meus velhos pesadelos. E, esta manhã, acordei triste. Mas cada dia é, em si mesmo, único e irrepetível. E eu não quero que as minhas mágoas me impeçam de o viver. 

Sunrise, sunrise
Looks like mornin' in your eyes

A manhã já acabou, mas a voz de Norah Jones continua a ouvir-se, clareando o espaço dentro de mim. Hmm, quem seria eu, sem música?

Lembras-te de Parsifal e da pergunta que ele não conseguiu fazer? Que posso fazer por ti? É também essa a pergunta que, muitas vezes, nos esquecemos de fazer… hmm, eu não me quero esquecer. Nem quero ser outra. Quero continuar a ser eu própria, por mais mal-entendida que possa ser.

Bem, agora vou voltar ao meu bosque dos poetas, que possivelmente nunca concretizarei, mas que me deixa feliz, quando o imagino. Um negrilho para Miguel Torga, madressilvas para Eugénio de Andrade, um cedro para Khalil Gibran, um ginko para Goethe, um castanheiro para Yeats, uma romãzeira para Rumi… e muitas outras árvores para outros tantos poetas, uma floresta inteira para Fernando Pessoa.

Há um murmúrio na floresta,
Há uma nuvem e não já.
Há uma nuvem e nada resta
Do murmúrio que ainda está
No ar a parecer que há.

É que a saudade faz viver,
E faz ouvir, e ainda ver,
Tudo o que foi e acabará
Antes que tenha o que esquecer
Como a floresta esquece já.

Termino, assim, com um poema de Pessoa, com a voz de Nina Simone, em Feeling Good, com uma fotografia de um lugar que eu amo, com o desejo de que tenhas um bom dia e com um sorriso. :)






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