segunda-feira, julho 09, 2018

Cozinhar

Eu gosto do modo como cozinhar me liberta de todas as preocupações, como me deixa verdadeiramente descontraída e feliz. :)

Contudo, não sinto que isso aconteça sempre que cozinho, muitas vezes é só uma rotina apressada, que se faz por que tem que se fazer.

Quando eu cozinho para as minhas festas, cozinho para quem eu amo, quer sejam aqueles que vão comer a minha comida, quer seja a minha Vitória da Samotrácia, ou a minha Belle Heaulmiere (estou a partilhar demasiado, não estou? Ok, generalizemos um pouco, então. ;) ), ou o jovem de uma das minhas pinturas favoritas, da qual tenho um poster no meu quarto em Trás-os-Montes, ou muitas das minhas queridas personagens, que encontrei em livros que ficaram comigo para sempre, ou ainda a minha tribo, que desapareceu muito antes de eu chegar, mas que percorria a mesma paisagem que eu também percorro e onde ainda encontro o seu eco distante.

Bem, quem me conhece de verdade, sabe que a minha festa favorita é, sem dúvida, a Festa da Promessa da Primavera, quando a primavera ainda não é, mas nós acreditamos que será. Sim, é essa a minha favorita, porque sim. :)

Termino, então, com um excerto de um dos meus contos, perdido na selva da internet e que talvez apenas eu seja ainda capaz de encontrar:

«Um dia, quando eu era uma criança pequena, brincava na sacada com um jarro verde e vasos de malvas ainda por florir. O Laribau parou na rua e olhou para mim. Ele já era um homem naquela altura, um homem doido. Perguntou-me que ervas eram aquelas, que eu tinha nos vasos? Respondi que não eram ervas, mas sim flores. Chamavam-se malvas. Ele riu-se de mim e disse que as minhas ervas, se calhar, eram couves. Não sabia eu que as flores tinham pétalas e cores e perfumes e faziam o mundo parecer outro? Porque lhe chamava flores? Porque sim, insisti eu. Ele ficou sério, de repente. Disse-me que porque sim estava bem. Talvez as minhas ervas se tornassem flores, porque sim. »

16 de Novembro de 2017.

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