quinta-feira, dezembro 06, 2018

Fieis à nossa natureza

Ontem, quando fui buscar o meu filho à escola, ele disse-me que uma colega dele precisava de ajuda. Acrescentou que ela ia sozinha para a escola e tinha medo, andava um homem a segui-la. Disse-me que ele sabia disso porque ela tinha-se queixado à professora, na sala.

- O que é que queres fazer?
- Vamos buscá-la e levá-la a casa.
- OK. Não só podemos como devemos fazer isso, mas também é importante que percebas que ela, ou a família dela, nunca fariam isso por ti, se tu precisasses. Então, ainda queres ir buscá-la e levá-la todos os dias a casa?
- Sim.
- OK. 

Falamos com a miúda, perguntamos se queria que a fossemos buscar e levar a casa. Ela disse logo que sim. Combinamos, mas esta manhã ficamos imenso tempo à espera e ela não apareceu. 

Na escola, disseram-me que ela já tinha chegado. Quando referi a situação, insistiram que era tudo da cabeça dela. Noutro tempo, eu quereria saber como tinham chegado a essa conclusão. Agora, limito-me a supor que tenham alertado a Escola Segura e que tenha sido feita uma investigação.

Contudo, havendo ou não razões para alarme, a verdade é que a menina tem medo. E uma criança que vai sozinha e com medo para a escola é, no mínimo, uma situação bem triste. Mas, aparentemente, nem os pais nem a Escola querem ou aceitam ajuda. :(

Enfim, da próxima vez que o meu filho quiser ajudar alguém, tenho que acrescentar ainda outra pergunta:

- Sabes que, por melhores que sejam as nossas intenções, isto pode resultar mal e prejudicar-nos, de alguma maneira. Então, ainda queres ajudar?

Bem, parece que eu faço isso à espera que ele diga que não, mas não é verdade. Faço-o porque deposito tanta esperança no meu filho, que nem sequer duvido que ele vai continuar a dizer que sim!!! 

Termino este post com mais uma música da banda que eu ouço muitas vezes: Disturbed. Hoje, escolho a música The Light. :)

Hmm, já agora, deixo também uma imagem. ;)



quarta-feira, novembro 21, 2018

Receita de marmelada tradicional

Como sempre, nesta altura do ano, vou oferecendo umas taças de marmelada aos amigos. E, também como sempre, vou constatando que já praticamente ninguém faz a marmelada como se fazia antigamente. Agora, coloca-se o marmelo cru, em pedaços, juntamente com o açúcar e deixa-se cozinhar durante muito tempo, mesmo muito tempo. Depois passa-se a varinha e está pronto. Pouco importa que esse processo destrua todas as vitaminas da fruta e que deixe o produto final doce, mas insípido. É um processo moderno, logo é o melhor, não? Não, não é. Alguém pegou numa receita tradicional perfeita e transformou-a em algo que apenas retira qualidade ao produto final, tudo isso para reduzir um pouco o trabalho.

Enfim, deixemo-nos disto e vamos lá à receita tradicional de marmelada. ;)

Em primeiro lugar, cozem-se os marmelos. Podem cozer-se com a casca e até se poderiam cozer inteiros, mas esse processo é lento e perdem-se nutrientes. Assim, eu cozo-os em pedaços grandes, mas sem casca e sem caroço, uma vez que mais tarde utilizarei estes produtos para fazer geleia. Também os cozo ao vapor, por ser um processo de cozedura ainda mais rápido e que preserva as vitaminas e todo o sabor da fruta. Depois passo no passe vite e reservo.

Entretanto, coloco o açúcar ao lume, com um nadinha de água. Utilizo um quilo de açúcar para um quilo de marmelo cozido. O açúcar tem que apurar até estar quase a começar a caramelizar, mas não se pode deixar caramelizar. Tira-se, então, do lume e junta-se de imediato o puré de marmelo cozido, que não volta a cozinhar. Mexe-se com força, durante bastante tempo, até obter uma massa homogénea. Concordo que este ponto, no final, dá bastante trabalho, a menos que, neste momento, se use uma varinha mágica, que deixa tudo ligado e pronto, quase instantaneamente. ;)

Bem, se nem sequer dá assim tanto trabalho, se nutricionalmente é muitíssimo melhor, se o sabor é incomparável, então porque é que já praticamente ninguém faz a marmelada pelo processo tradicional? Para além da nova receita simplesmente ter virado moda, creio que há também o mito que a marmelada à antiga não fica dura, não se conservando durante muito tempo. Na verdade, por vezes esta marmelada fica mole, o que só quer dizer que o açúcar não atingiu o ponto que deveria ter atingido. Se for bem feita, esta marmelada não só fica dura, praticamente de imediato, como se conserva durante anos, ainda melhor do que outra. Tendo ainda a vantagem de que não estamos apenas a guardar um produto doce, que pouco mais teria do que açúcar, mas sim a preservar um produto delicioso, que contém muitos dos nutrientes da fruta. :)

Uma nota breve acerca dos marmeleiros: sobretudo nas variedades mais rústicas, são árvores que crescem em terrenos fracos, onde outras árvores de fruto não se desenvolveriam. Também são resistentes às pragas e à seca. Para além disso, ainda se propagam facilmente através de estaca, não necessitando qualquer enxertia.

Bem, para terminar gostaria ainda de referir que as supostas maçãs de ouro, do Jardim das Hespérides, representado nos altos-revelos do Templo de Zeus, em Olímpia, pareciam-se mais com marmelos, do que com maçãs. ;)


quarta-feira, outubro 31, 2018

Halloween 13/13

Para terminar, escolhi o tema This Is Halloween, do filme The Nightmare Before Christmas, de 1993, na versão de Marilyn Manson.

Feliz Halloween! :)

Já agora, para aqueles que estranham que eu insista em Halloween e não Samhain, bem, na verdade, ambas as palavras são meros rótulos, definem o que nós quisermos que definam. ;)


terça-feira, outubro 30, 2018

Halloween 12/13

Na penúltima música da minha lista de Halloween, mudo de registo e escolho The Beautiful People, de Marilyn Manson. ;)

Bem, o ideal grego da perfeição aliava a beleza física aos valores morais. A definição desse ideal per se é perfeitamente legítima. Por outro lado, a herança que daí advém, para a civilização ocidental, já é questionável, uma vez que estabelece uma relação entre a fealdade física e a fealdade moral. Os gregos estavam conscientes dessa falácia e combatiam-na. A título de exemplo, ocorre-me o elogio da fealdade, de Alcibíades, que era dirigido a Sócrates, que ele considerava feio em termos físicos, mas belo em termos morais.

Quanto à nossa civilização, creio que já estamos para lá disso, de estabelecer a relação entre a fealdade física e a fealdade moral. Mas, se é verdade que sabemos que essa relação simplesmente não existe, também é verdade que, cada vez mais, o que conta é apenas o aspecto físico, quaisquer que sejam os valores morais que lhe estão associados. Assustador, não? ;)


segunda-feira, outubro 29, 2018

Halloween 11/13

A lista está quase a acabar, assim, esta noite escolho uma canção verdadeiramente mágica e intensa. :)

Caller Of Spirits, de Blood Of The Black Owl, também é uma música estranha e assustadora. Hmm, que mais se pode pedir? ;)


 

Árvore de Halloween

Bom dia. :)

Está um friozinho bom, não está? O chão está coberto de folhas e sente-se mesmo o outono. O que é maravilhoso, até pelos meus manjares cerimoniais de Samhain, que sabem bem melhor no tempo frio. ;)

Que mais? Tenho a casa completamente decorada, com coisas de Halloween, naturalmente. Que posso eu dizer? Essa decoração, mais do que dar um verdadeiro ar de festa, tem aquela leveza e alegria que me encantam. :)

Assim, deixo aqui duas fotos das minhas Árvores de Halloween. ;)

Já agora, termino com o início maravilhoso de um livro de Ray Bradbury, cujo título é precisamente The Halloween Tree.

«The wind outside nested in each tree, prowled the sidewalks in invisible treads like unseen cats. Tom Skelton shivered. Anyone could see that the wind was a special wind this night, and the darkness took on a special feel because it was All Hallows' Eve. Everything seemed cut from soft black velvet or gold or orange velvet. Smoke panted up out of a thousand chimneys like the plumes of funeral parades. (...)»

The Halloween Tree, Ray Bradbury



domingo, outubro 28, 2018

Halloween 10/13

Esta noite, com tristeza, sobretudo pelo que se passa no Yemen, deixo uma frase que certamente nos faz pensar.

Quanto à música, escolhi mais uma canção de Monica Richards, I Am Warrior. Porque a luta continua!...



sexta-feira, outubro 26, 2018

quinta-feira, outubro 25, 2018

Halloween 7/13

Hoje, a música é Into The Mist, de Eivør. Escolhi a versão em inglês, apesar de ser menos misteriosa e mágica, por causa da letra, que é muito bela.

Espero que também gostes desta frase do Stephen King, que é uma delícia:





quarta-feira, outubro 24, 2018

Halloween 6/13

Nesta noite de lua cheia, a música é de Nox Arcana: Night of the Wolf - deliciosamente assustadora! ;)

Deixo ainda, como frase da noite, um excerto do belíssimo poema de Edgar Allan Poe: A Dream Within a Dream.


terça-feira, outubro 23, 2018

Halloween 5/13

Hmm, numa noite de lua cheia, perto da meia-noite, que música hei-de escolher para a minha playlist de Halloween? ;)

Certo! É mesmo Thriller, de Michael Jackson. :)

Bem, se não acabo isto rapidamente, a minha geleia, que ainda está a cozinhar, pode muito bem ficar queimada. Assim, sem mais, deixo-te com um pensamento verdadeiramente assustador, como frase do dia, ou da noite;



segunda-feira, outubro 22, 2018

Halloween 4/13

Começo por dizer que, afinal, ontem não vi o filme A Pigeon Sat on a Branch Reflecting on Existence (2014), de Roy Andersson. Esse é o último filme de uma trilogia, assim, achei por bem começar pelos outros dois: Songs from the Second Floor (2000) e You, the Living (2007).  ;)

O sueco Roy Andersson é um filósofo e um dos grandes autores de culto do cinema moderno. A ver, sem dúvida.

Voltando ao Halloween… Bem, hoje preciso de qualquer coisa ligeira, por isso escolhi a música Ghostbusters, de Ray Parker Jr. :D

Quanto à frase do dia, deixo este pensamento profundo e assustador:


domingo, outubro 21, 2018

Halloween 3/13


Esta noite estou tristíssima.  :(

Bem, vou colocar aqui a música da minha playlist rapidamente, que ainda quero ver um filme, antes de ir dormir. 

Um Pombo Pousou num Ramo a Reflectir na Existência, de Roy Andersson, 2014. 

Acredito que o pombo fará um trabalho bem melhor do que o meu… 

Na playlist de Halloween, hoje a música é Wytches Brew, de Omnia.

Quanto à frase do dia, deixo uma questão… quem sabe, talvez o pombo me responda. 




sábado, outubro 20, 2018

Halloween 2/13

Mais uma música da minha lista de Halloween: Red Right Hand, de Nick Cave.

Adoro esta música!  :)

On a gathering storm comes
A tall handsome man
In a dusty black coat with
A red right hand

Isto levou-me para Margarita e o Mestre, um livro extraordinário de Mikhaíl Bulgákov, que li há muito tempo. Embora lá a descrição do demónio fosse bem diferente. Talvez a altura...

He'll rekindle all the dreams
It took you a lifetime to destroy
He'll reach deep into the hole
Heal your shrinking soul
But there won't be a single thing that you can do
He's a ghost, he's a god
He's a man, he's a guru

Tudo isto com a voz incrivelmente sexy de Nick Cave? Hmm, é uma pena que não existam verdadeiros salvadores, não é? ;)

You'll see him in your nightmares
You'll see him in your dreams
He'll appear out of nowhere but
He ain't what he seems
You'll see him in your head
On the tv screen
And, hey, buddy, I'm warning
You to turn it off
He's a ghost, he's a god
He's a man, he's a guru
You're one microscopic cog
In his catastrophic plan
Designed and directed by
His red right hand

Pronto, a música deliciosamente assustadora acabou, deixo agora a frase do dia. ;)








sexta-feira, outubro 19, 2018

Halloween 1/13

A ideia é ir colocando aqui uma frase e uma música, que de alguma forma façam parte do meu Halloween.

Começo, então, com a música Psycho Killer, de Talking Heads.

Hmm, talvez porque hoje é um daqueles dias em que me apetece gritar: «don't touch me, I'm a real live wire». ;)

Deixo ainda uma frase acerca da suposta normalidade. Bem, muito já eu corri atrás desta ilusão, na esperança de me integrar, nem sei bem no quê, mas tudo isso faz parte do passado. Agora, aceito-me tal como sou, com toda a minha estranheza. E aceito os outros, tal como eles são, com toda a sua estranheza - o que é igualmente importante!


quarta-feira, outubro 17, 2018

Take me home where I belong...

Boa noite. :)

Estou a ouvir AURORA, na maravilhosa música Runaway.

And I was running far away
Would I run off the world someday?
Nobody knows, nobody knows
And I was dancing in the rain
I felt alive and I can't complain

But now take me home
Take me home where I belong
I got no other place to go.

Hmm… já te disse, alguma vez, que eu acredito que quando encontramos uma pedra esculpida pela natureza, com o formato de um coração, isso significa que estamos no nosso caminho de regresso a casa, à nossa verdadeira casa?

Antigamente, deixava pedras-coração nas encruzilhadas, para que alguém as encontrasse. Depois, deixei-me disso, quando as minhas crenças passaram a precisar da aprovação dos outros, para poderem continuar a existir.

Bem, talvez não haja qualquer problema em seguirmos o caminho dos outros, mas esse caminho não nos levará a lado nenhum. E eu quero regressar a casa, ao lugar onde pertenço, onde sempre pertenci, onde sempre pertencerei.

Sei bem que o meu caminho será, necessariamente, um caminho solitário. E também sei que me assustará, muitas vezes. Nessas alturas, tenho que me lembrar de velhos ensinamentos, sabendo que não tenho razão para desconfiar do meu mundo, porque ele não está contra mim. Rilke dizia que se o mundo tem sustos, são os nossos sustos, se tem abismos, são abismos que nos pertencem, se tem perigos, temos que tentar amá-los.

Ah Como eu quero ir ao encontro dos meus sustos e dos meus abismos!

Entretanto, fiz uma pausa neste post e escrevi noutro lado, o seguinte:

«Eu adoro o nordeste Transmontano. Mas talvez seja apenas por ter nascido lá… ;) Bem, para começar, há a maneira como o tempo muda: perdendo, logo no primeiro segundo, a velocidade alucinante da seta do tempo e, à medida que os dias passam, voltando cada vez menos linear e mais cíclico. Há aqueles momentos maravilhosos em que se acorda a meio da noite, com o silêncio e o sono interrompidos por alguma raposa aventureira. Há os pequenos instantes, ao longo do dia, em que simplesmente se repara nas nuvens e na cor do céu. Há as memórias do pôr-do-sol. Há os passeios nocturnos, nas noites de lua cheia, em que tudo na floresta é intenso e mágico. Há as noites cheias de estrelas. E isso, por si só, já seria imenso. Mas há muito mais. Há as velhas lendas, as grutas inexploradas, os castros… há a paisagem. Uma paisagem muito pouco humanizada, que nos desperta. E o que é que se compara ao momento em que o mundo simplesmente nos desperta?

Bem, uma vez uma amiga que eu levei lá, sentiu profundamente esse despertar e, a partir dali, as férias dela passaram a ser, ano após ano, no deserto, em Marrocos. Mas, como eu lhe disse vezes sem conta, só sentimos esse despertar, quando nos integramos completamente na paisagem. E só nos integramos verdadeiramente na paisagem, quando essa paisagem é pura e simplesmente o corpo da nossa tribo. Hmm, há algumas semanas, quando eu andava por outros lados, também à procura da minha tribo, citei uma ou outra vez a frase do Jorge Luis Borges: Que rio é este pelo qual corre o Ganges? Pois… A paisagem que moldou a tribo, de alguma maneira, é imutável. Os montes tornam-se vales, os rios correm em diferentes leitos, as velhas árvores desaparecem e outras, de diferentes espécies, passam a ser dominantes. Tudo muda e, ainda assim, a paisagem que foi corpo da tribo, ainda é. :)

Antes de terminar, permitam-me que explique este post e, sobretudo, este comentário, neste grupo. Eu não quero apenas pertencer a uma comunidade virtual. Eu quero encontrar a minha tribo. Hmm, eu não estou a dizer que a vou encontrar aqui, estou só a dizer o que me motiva. :) »

Sim, bem sei, esta noite já escrevi demasiado. :P

Termino, então, com mais uma pintura. Desta vez, com uma mulher caminhando na floresta, parecendo assustada e só, mas que, por certo, não está nem só nem verdadeiramente assustada. ;) Hmm, há nela algo louco, possivelmente porque é mesmo louca. ;) 

É uma pintura de Gottlieb Theodor von Kempf Hartenkampf.



segunda-feira, outubro 15, 2018

Pensamentos banais

No final da semana passada, enquanto eu e o meu filho caminhávamos até à escola, reparamos que caiam as primeiras folhas. Aproveitamos e apanhamos uma dessas folhas, antes de chegar ao chão. A primeira deste outono.

O meu filho olhou para mim e disse-me que o outono era uma das suas estações favoritas. Depois, riu-se e acrescentou:

– Queres que te diga quais são as outras três?

Para mim, é diferente. O outono é mesmo a minha estação favorita.

Espero que, quando eu morrer, o meu filho se lembre de mim no outono.

Hmm, começou a música It's Happening Again, de Agnes Obel, e eu distraí-me.

No future, no past
No laws of time
Can undo what is happening
When I close my eyes
And with the stars and the moon
I woke up in the night
In the same place
To save me for my eyes
It’s happening, it’s happening, it’s happening again…

De repente, ocorreu-me que a memória de uma folha murcha arrastada pelo vento, talvez seja algo que se não deva partilhar, de tão insignificante.

Hmm, que posso eu dizer? Se tenho pensamentos secretos, então nem eu própria os conheço.

Não me seduz a intelectualidade, de modo que pouco mais me resta a não ser os pensamentos banais acerca das coisas simples, que criam as minhas memórias.

Termino com uma pintura de Stanislaus Soutten Longley. Não sei por que razão me ocorreu... se há alguma simplicidade retratada, então é uma simplicidade idealizada, logo construída, fictícia. Mas é bela. Hmm, será o amor ao belo, em si mesmo, algo bom?...


quarta-feira, outubro 03, 2018

Pensamentos estranhos

Ontem, apanhei um choque eléctrico muito forte. Podia ter morrido, mas felizmente não morri.

Agora, a memória desse acontecimento voltou e deixou-me às voltas com pensamentos, no mínimo, estranhos.

Sim, bem sei que não é suposto escrever sobre isso… Ok, só um momento.

Por acaso, momento era uma medida de tempo medieval, que correspondia a 90 segundos.

Hmm, Disturbed? Disturbed.

Open Your Eyes.

Ok, vou terminar. Pode ser com uma pintura?...

Dante & Virgil (detail) by William Adolphe Bouguereau, 1850.

Sei lá porquê, apareceu na minha cabeça, agora mesmo. Não te disse que estava com pensamentos estranhos?


sábado, setembro 29, 2018

Quero o meu outono

Com temperaturas tão altas, é difícil entrar no espírito do outono, mesmo com a música Autumn Leaves, de Chet Baker.

Hmm, eu quero o meu outono, com dias frescos e agradáveis, em que os seus inconfundíveis aromas se espalham por toda a casa: tartes de abóbora, maçãs assadas, biscoitos de especiarias, pão de bolota.

Eu quero ver as minhas taças de marmelada a secar ao sol suave e não tórrido, como ainda é e já não deveria ser.

Quero as minhas tardes inteiras a rir e a rodopiar, enquanto tento apanhar as folhas que caem, antes delas chegarem ao chão. E não entendo este tempo em que nem brisa há.

Quero o chocolate quente ao fim do dia, ou o chá com scones, e ficar contente com aquele calorzinho bom, que me invade.

Quero voltar aos pratos intensos e quentes, que o outono traz de volta.

Quero os meus longos passeios pelos bosques, cada dia mais belos e maravilhosos. Quero os meus fins de tarde a apanhar bolota, num mundo onde a cor transforma cada folha, deixando-a única.

Quero brincar com as folhas e com as pedras, em efémeras construções de Land Art.

Quero sentir a chuva de outono e saltar nas poças de lama, com o meu filho.

Quero sonhar, imersa no mundo com as cores e os aromas de outono, e ter sonhos maravilhosos!


Autumn by Georges Picard (1857-1942).


sexta-feira, setembro 28, 2018

Happiness is all I need right now


Happiness is all I need right now.

Hmm, creio que vou mudar de música, por mais que goste da música Go To Mexico, da menina Cassandra Wilson. :)

Isto fez-me lembrar o tempo em que eu escrevia com o pseudónimo de Cassandra Sutra. Estranhas esse nome? Se bem me lembro, era perfeitamente adequado. :P Mas isso foi há muito tempo, entretanto a minha escrita mudou. Bem, o meu sentido de humor manteve-se mais ou menos igual, mas o meu nível de transgressão regressou a valores normais. ;)

I'm Only Joking é a música que estou a ouvir agora. Kongos, pois claro! :D

Bem, não restou praticamente nada da escrita desse tempo, só um pequeno conto permaneceu. Um conto de que ninguém gostou, a não ser eu própria. :( 


Os meus pressupostos eram: contos quase completamente absurdos, quase divertidos e que não tivessem propriamente sensualidade, mas que fosse quase sensuais. E consegui tudo isso! ;)

Agora, é outro tempo. Os pressupostos da minha escrita já não envolvem a pura diversão. Na verdade, já nem sequer escrevo contos, só uns posts absolutamente insignificantes, aqui e ali, em que um ou outro é quase interessante e quase motivador. Hahahaha... pelo menos, mantive-me no quase. :P

Mas tenho saudades do tempo em que escrevia outras coisas, coisas que bem podiam ter logo no início a citação desta parte da letra, da música que ainda estou a ouvir:

I'm only joking
I don't believe a thing I said
What are you smoking
I'm just fucking with your head

Então, achas que é possível não gostar de uma música com uma letra destas? Hahahahaha…

Para terminar, deixo uma imagem de uma dançarina. Não a escolhi por ser uma imagem não convencional, escolhi-a porque é simplesmente maravilhosa. A fotografia foi retirada da net, não sei quem é o autor.



quinta-feira, setembro 27, 2018

Mais um dia cheio de sol

Hoje, é um belo dia, cheio de sol, que a voz deliciosa de Hindi Zahra, em Stand Up, deixa ainda mais solarengo.

Standing on your two knees baby, tell me what do you need
Oh, Stand up on your two feet baby, that's how its got to be...

Hmm, será que te posso ainda dizer que esta semana vimos a comédia de Shane Black, The Nice Guys, de 2016.

– Shane Black... não estou a ver quem é.
– Fez Lethal Weapon I e II, nos anos oitenta. The Last Boy Scout, nos anos noventa, com o Bruce Willis.
– Hmm... não sei se quero ver uma comédia dele. E como é que sabes assim tanto acerca desse senhor?
– Estou a ver no IMDb.

Bem, Russell Crowe e Ryan Gosling arrasam, nesta comédia que merece bem o nosso tempo, que é inteligente e divertida, mesmo muito interessante. :)

Hmm... mais alguma coisa? Ah! Bom dia! :D



Erotismo

Hmm, é só mais uma noite em que não consigo dormir. O melhor é aceitá-la e pronto.

Estou a ouvir Black Velvet, de Alannah Myles. É uma música que eu conheço bem. Mesmo assim, surpreende-me cada vez que a ouço, com a sua profunda sensualidade. ;)

Uma das muitas coisas absurdas do nosso admirável mundo novo é que, sem grandes reservas, deixamos que sejam comédias românticas sofríveis e, o que ainda é pior, anúncios banais a definirem a nossa sensualidade. Depois estranhamos que as nossas relações sejam profundamente monótonas e, muitas vezes, pouco satisfatórias.

Eu entendo que não há verdadeiro erotismo, se não sabemos do que gostamos e do que gosta o outro. O erotismo não se traduz numas quantas fórmulas gastas, mas sim na vontade de queremos entender-nos e entender o outro, na aceitação e na partilha das fantasias sexuais.

A música mudou, agora é Mad About You, de Hooverphonic.

Feel the vibe,
Feel the terror,
Feel the pain,
It's driving me insane.

Hmm... o melhor é ir dormir. Ou não. Mudemos apenas de assunto.

Assim, creio que vou transcrever um texto que publiquei noutro lado, em 2008. ;)

O título era: Vem, vem cá...

The Hosting of the Sidhe, W. B. Yeats

The host is riding from Knocknare
And over the grave of Clooth-na-bare;
Caolte tossing his burning hair
And Niamh calling Away, come away:
Empty your heart of its mortal dream.
The winds awaken, the leaves whirl round,
Our cheeks are pale, our hair is unbound,
Our breasts are heaving, our eyes are a-gleam,
Our arms are waving, our lips are apart;
And if any gaze on our rushing band,
We come between him and the deed of his hand,
We come between him and the hope of his heart.
The host is rushing 'twixt night and day,
And where is there hope or deed as fair?
Caolte tossing his burning hair,
And Niamh calling Away, come away.

Niamh, Niamh... Onde está o teu cavaleiro de cabelos de fogo que cavalga veloz e destemido entre noites e dias? Quem escuta ainda o teu chamamento, minha senhora das fadas?... Eles já nem sequer sabem que quando tu chegas, os ventos acordam e as folhas rodopiam pelo ar...

“Vem, vem cá” murmura a tua voz, cada vez mais longe... e o meu coração fica despedaçado, senhora minha, porque não se pode perder o teu chamamento, que transforma as noites de luar em noites misteriosas e mágicas, onde todos os sentidos te enaltecem. Onde nós e o mundo nos tornamos outros, para que no tempo fora do tempo e no espaço fora do espaço, o teu cavaleiro te encontre, senhora.

Celebramos o vosso encontro. E as nossas faces pálidas à luz da lua são os vossos rostos na noite e ao luar. São vossos os cabelos soltos, os olhos brilhantes e os lábios entreabertos. E tu, senhora, regressas de verdade e encontras o teu amado...

Senhora, que os nossos corpos sejam de novo templos, que reencontremos a pureza que nos permita honrar-te com todo o nosso amor e desejo, na floresta que é a tua casa.

Les lucioles (Detail) by Henri Camille Danger, 1896.


quarta-feira, setembro 26, 2018

Café, preciso de café...

Hmm, não há necessidade de mais café, estou completamente desperta.

Só preciso continuar a repetir, mais umas quantas vezes. Na verdade, mesmo muitas. Pois, sessenta e duas mil e quatrocentas repetições fazem uma verdade.

Hmm, nunca te interrogaste sobre o que terá levado o Aldous Huxley a escolher este número e não outro?

Depois, torna-se uma verdade inquestionável. E quem é que quer verdades inquestionáveis? :(

Não seria melhor uma listinha, para me manter acordada?

Cássia, manjerona, cardamono, endro, nardo, tomilho, abrótano, perpétua, urze, zimbro, cardo, cinamomo, junco, alfeneiro, amaranto, narciso, jacinto, açafrão, girassol, acanto, rosa, calêndula, violeta, tulipa, lírio, cedro, murta, jasmim, buxo, aroeira, hera.

Estranhaste a lista? Queres que te diga o que me levou a escolher estas plantas e não outras? Na verdade, não escolhi, a lista não é minha. São algumas das plantas referidas num poema do século XVII, de um grande poeta italiano: Giambattista Marino.

Vou copiar a parte da rosa:

«Arde a rosa de vermelho fogo,
o odor suspira e o orvalho é pranto.»

Maravilhoso, não é? :)

Hmm, onde é que está o café?...


Bolero, de Ravel

Ando com insónias. :(

Talvez o Bolero, de Ravel, me ajude a adormecer.

Hmm, como alguém diz nos comentários deste vídeo:

«You can't compose a song that has the same melody playing for over fifteen minutes and make it sound good.»
Maurice Ravel: Hold my beer.

:P

Esta música é incrível, faz-me pensar em tudo o que é eterno e infinito. :)

Zbigniew Rybczynski, um cineasta russo, fez um filme - The Orchestra, 1990 - baseado nesta música, onde coloca as personagens a subirem ao céu, através de uma escada sem fim.

Por acaso, as personagens são os protagonistas da revolução soviética, que ascendem ao céu, quais anjos e querubins. ;)

É tudo, deixo-te com esse belo pensamento e esta música maravilhosa, agora vou dormir. :)

Link: Maurice Ravel - Bolero

terça-feira, setembro 25, 2018

An Art Made of Trust, Vulnerability and Connection, by Marina Abramović

Hoje, deixo aqui um vídeo de uma artista extraordinária, que nos tira da nossa zona de conforto e que abre a nossa mente a novas possibilidades.

Marina Abramović tem mais de 70 anos e é considerada a avó da arte performativa.

Vamos, então, ouvi-la na sua própria voz.



sábado, setembro 22, 2018

Só uma história conhecida

Olá, doçura. :)

Hoje, tenho uma história deliciosa para ti. Provavelmente já conheces, mas eu vou contá-la na mesma, enquanto ouço Kongos. :)

Woah come with me now
I'm gonna take you down.

:P

Numa certa noite, um polícia viu um homem bêbado à procura de algo, junto a um candeeiro. Aproximou-se e perguntou-lhe se precisava de ajuda. O outro homem disse que sim, tinha perdido as chaves de casa. Após mais de 20 minutos a vasculhar tudo, sempre junto ao candeeiro, sem encontrarem nada, o polícia parou e perguntou ao outro: 

- Tem a certeza de que perdeu as suas chaves aqui?

- Claro que não! Eu não sei onde as perdi – respondeu o outro homem.

- Então, porque as procura aqui? – quis saber o polícia, incrédulo.

- Ora, porque aqui há mais luz!

Não, não é uma anedota. É uma metáfora, que se aplica a todos nós. Todos nós temos desígnios, de diversas naturezas, que simplesmente não se cumprem, porque insistimos em procurar o que nos falta onde é mais fácil procurar, mesmo sabendo que a solução não está lá. 

Take it from me! (Nah, é só o título da música que estou a ouvir agora. ;) )

Hmm, queres uma fatia de bolo caseiro? Pão-de-ló com fios e doce de ovos… mais doce ainda que o pecado! ;)



terça-feira, setembro 18, 2018

Comentários soltos, sem data. 06

Olá. Nem sou capaz de dizer como me sinto esta noite. Vou comemorar. Que queres que te diga? Reescrevi a história do Parsifal (sim, sim, apenas e só porque não tinha nada melhor para fazer) e gostei tanto do final (que, a propósito, me apanhou completamente de surpresa!) que decidi comemorar. :)

Bem, se vou sentir esta alegria toda, o melhor é não ficar por esta história. ;)

And now something completely different... o meu filho, esta semana, do alto dos seus seis anos, redefiniu a minha demanda espiritual, quando eu lhe disse o nome de uma divindade e ele disse que então não era um nome, era uma palavra mágica. O que pensas disso?  :)

Dance of the Nymphs by Nikolaos Gyzis (1842-1901).


Comentários soltos, sem data. 05

Hoje chove, o que é fantástico!  :)

Até agora tem sido um outono muito solarengo. Mas, não sei bem porquê, quase já não ando à chuva. Creio que simplesmente me tornei citadina e esqueci muito do que não deveria ser esquecido.

Hmm, vou usar uma das minhas palavras favoritas: antigamente. :P Antigamente, passear na chuva era algo que me retirava da rotina, que me despertava, que me fazia ver o mundo com um olhar novo, de quem ainda não viu tudo. E não falo de uma chuvinha que mal nos molha, pelo contrário, refiro-me àquela chuva forte e intensa, de inverno, que rapidamente nos gela até aos ossos. :)

O frio acorda-nos profundamente. O problema do mundo moderno não está tanto no frio, como na ausência dele. Muitos de nós vivemos a maior parte das nossas vidas dentro de quatro paredes, sempre com ar condicionado e isso entorpece-nos, adormece-nos, quer queiramos quer não.

Depois, muitos vivem em belos lugares do mundo onde a mudança das estações mal se nota e isso ainda os adormece mais.

Eu não vejo nenhum sentido em reverenciar a mudança das estações per se. :(

Uma das muitas razões por que eu amo Trás-os-Montes é, precisamente, por ser um dos lugares do mundo onde a mudança das estações é mais visível. E se sente mais!

De resto, uma lareira só é verdadeiramente acolhedora num dia intensamente frio. :)


Comentários soltos, sem data. 04

Olha, não sei porquê, lembrei-me da série Rectify e tentei imaginar o que poderia ser estar 20 anos fechada num cubículo, sem nunca poder ouvir música. :(

Do que eu teria mais saudades, da música ou do som da chuva? ;)

Uma cena que me impressionou imenso aconteceu logo na primeira temporada, quando uma mulher lhe fala do modo como gosta da chuva forte num dia quente de verão e ele diz que nada daquilo é real para ele, nem sequer a chuva.

Bem, eu adoro as sensações que vem com o aroma da terra molhada, sobretudo quando isso acontece num dia quente de verão e a intensidade desse cheiro é quase excessiva. :)

Hmmm… também adorei o momento em que ele vai a um museu ver uma pintura, que já tinha visto num livro imensas vezes, e, por alguma razão complexa da mente, é incapaz de sentir a alegria e a admiração que seriam expectáveis. ;)

Sabes, há uma pintura que eu vejo imensas vezes, um quadro antigo de um pintor famoso que, para mim, ao contrário do que indica o título do quadro, representa uma divindade pagã. Por vezes, questiono-me se o meu amor por esse deus existiria se não fosse essa pintura? Ou (que sei eu?) talvez o meu amor por essa pintura só exista por causa de um deus. ;)


Comentários soltos, sem data. 03

Se me permites, vou fazer uma citação, do filme: Beasts of the Southern Wild.

O momento em que Hushpuppy incendeia o barco com o cadáver, que se afasta. E eles dizem: «I watch a ship as she disappears. There, she is gone. And we cry for this. But she's not gone. She's just as real as when she left me. And somewhere else, other voices are calling out: "Here she comes." And that is dying. Here she comes!»  :)

Já viste como a palavra saudade perdeu o seu sentido original? Onde está a palavra intraduzível que nasceu na Galécia atlântica? O doce-amargo português foi esquecido, perdeu-se a alegria, ficando só a tristeza. A palavra que os ingleses traduziam como «the joy of grief», nos tempos modernos parece ser só dor, nada mais do que sentimento de perda ou de ausência.

Contudo, na sua forma arcaica, daqui, da velha Galécia, a saudade na voz do povo era acima de tudo: «Suidade minha, quando te veria?».

É uma pena que se tenha perdido o sentido do reencontro, patente na citação que eu transcrevi, do filme Beasts of the Southern Wild.

Já agora, um destes dias vi um filme de ficção científica que na parte final, em escassos 15 segundos, me fez sentir uma alegria enorme, porque traduzia na perfeição a minha vivência da saudade, numa abordagem bem diferente da habitual, distinta inclusivamente em termos temporais.

About time, 2013. Bem, o filme é quase banal, mas…  ;)

OK, os tais 15 segundos: «The truth is I now don't travel back at all, not even for the day, I just try to live every day as if I've deliberately come back to this one day, to enjoy it»

Adoro a ideia de olhar para o meu dia, por mais insignificante que seja, e imaginar que fiz uma viagem no tempo, que escolhi este dia, precisamente este dia, aparentemente banal e rotineiro, para o viver de novo. Tudo se altera, sabes? :)

Que mais posso eu dizer? Eu quero ter saudades! Mais do que ter saudades do que vivi, quero dedicar-me a criar as saudades no meu futuro e no futuro daqueles que eu amo. E estou sempre a tentar manter isso na minha mente, a tentar viver a saudade...  :)


Comentários soltos, sem data. 02

Não gosto de listas, mas gosto de sonhos. :)

No meu sonho, eu estava com sede. Sentei-me na cama e decidi teleportar-me até à cozinha. O que fiz. E vi-me de imediato numa cozinha, que não era a minha. Fiquei um pouco assustada, mas estava sobretudo curiosa. Espreitei a sala daquela casa e vi lá uma miúda a brincar. Era uma criança que eu conhecia: uma colega do meu filho, que tem o nome de uma flor. E aí pensei que o melhor era sair dali sem que me vissem. Voltei rapidamente para a cozinha, mas, para meu grande espanto, à minha frente materializa-se o Griezmann. Ele trazia na mão o troféu do Cristiano Ronaldo e, aparentemente, queria escondê-lo ali. O que me fez pensar que estava a sonhar e que, possivelmente, andava a ver futebol a mais. Pois. Eu gosto de ver um jogo de futebol, não tanto pelo futebol em si, que não me diz grande coisa, mas mais pelo modo como a minha mente divaga durante aquele tempo…  ;)

Voltando ao sonho: deixo aquele apartamento imediatamente e caminho descalça por uma rua deserta, quando vejo o meu marido a dirigir-se a mim, trazendo na mão um maravilhoso par de sapatos vermelhos. E, nessa altura, o despertador acordou-me.  :(

Eu gosto de sonhar. Quando alguém me diz que não se lembra dos seus sonhos, acho sempre isso triste. :(

Hmmm… Viste a nova temporada de Black Mirror? Sei lá, San Junipero também me deixou triste. Bem, eu não teria dificuldade nenhuma em rejeitar tudo aquilo: praia paradisíaca, sol, sexo e rock’n’roll. Mesmo assim, continuo a achar aquela possibilidade assustadora. A ideia da tecnologia poder transformar uma viagem na viagem é, no mínimo, incómoda. Não é?... Não sei o que sentir acerca dessa eternidade. Mesmo em miúda, o final «viveram felizes para sempre» causava-me verdadeiros pesadelos. O que levou o meu pai a acabar com as histórias de princesas e contar-me, noite após noite, a história de uma batalha.

Não sei em que momento percebi que também se tratava de algo eterno, algo que se repetia vez após vez, sempre com o mesmo final. Mas essa eternidade não me assustava, nem assusta, da mesma maneira. Gosto de pensar que, à semelhança da Teoria dos Muitos Mundos, o final daquela batalha está distribuído por infinitos universos paralelos, contemplando todas as possibilidades.

Hmm… Sim, bem sei, estou a aborrecer-te. Então? É o que eu faço. ;)


Comentários soltos, sem data. 01

Encontrei, num documento do word, uns quantos comentários que eu escrevi a um amigo, ao longo dos últimos três anos. Vou transcrever alguns deles, só porque sim. Sem data, pois no documento não tinham a data. São pensamentos soltos, sem nenhuma importância, mas que eu quero preservar, quem sabe para me surpreender mais tarde? ;)

Olá. Como estás?  :)

Quanto a mim, bem, passei mais duas semanas nas minhas montanhas. Regressei e já sinto saudades. Já te disse como os sonhos são diferentes, naquela velha casa de granito? Estranhos e mágicos. E a magia é algo que escasseia no meu mundo citadino. Será disso que tenho mais saudades? Não sei, de verdade. Talvez do tempo, do tempo que parece perder a forma linear e a rapidez dos dias na cidade, para se espreguiçar e avançar de um modo muito peculiar, permitindo-nos um luxo raro no mundo moderno: acordar por nós próprios e dormir quando temos sono, ou comer quando temos fome.

Já viste como os nossos pensamentos se alteram após uns dias sem o controlo contínuo de um relógio? Quando deixamos de contar os minutos e as horas, a nossa visão do mundo transforma-se. Para mim, pelo menos, isso é verdadeiro. E o que eu aceito como verdadeiro, define-me.  ;)

Hmm… a noite. Mais do que os dias, adoro as noites nas minhas montanhas. Noites em que mal se dá pela presença humana. Noites noitíssimas.  :)

Também adoro a floresta. Aqui a floresta é demasiado humanizada. Lá a floresta ainda é selvagem, um lugar onde facilmente nos podemos perder… ou encontrar-nos. Como encontramos rochas de granito fantásticas, que nunca imaginaríamos que pudessem lá estar. Sente-se a cada instante todo aquele velho mundo a vir ao nosso encontro, a maravilha que pode ser descoberta, em cada mudança de horizonte. :)

Hmm, na verdade, não há nenhum imperativo, nada tem que ser descoberto, pois não? Que procura de um qualquer sentido se pode comparar a acordar, quando se acordar, e simplesmente estarmos felizes?...  :)




sábado, setembro 01, 2018

Soldados bolota

Às voltas com velhos papéis soltos, encontrei este diálogo, que já tem um par de anos.

– Queres ajudar-me a apanhar bolotas para fazer pão de bolota?

– Não, isso dá muito trabalho.

Assim, acabamos a apanhar bolotas para criar uma legião de soldados bolota.

Mais tarde, no mercado, eu coloquei as compras no saco das bolotas, que era o único que tinha. Já a caminho de casa, a criança lembrou-se e quis que parássemos e eu tirasse imediatamente as compras do saco.

– Vais destruí-los.

– Lamento. Agora, não há nada a fazer.

– O quê? Já estão destruídos? – E acrescentou, com um horror em crescendo, – como é que sabes? Já fizeste isto antes?

– O quê? Chacinar uma legião de soldados bolota? – Perguntei com um sorriso. – Garanto-te que é a primeira vez.

Admito que gostei do diálogo e fiquei contente por a minha criança se ter queixado.

Marco Aurélio dizia que se não nos queixássemos, dizendo que fomos ofendidos, a ofensa desapareceria. Creio que ele tinha toda a razão. O problema é que quando simplesmente avançamos e nem sequer nos queixarmos, não é só a ofensa que desaparece, também deixa de ter importância quem nos ofendeu.

(Imagem retirada da net, não sei quem é o autor.)

quinta-feira, agosto 30, 2018

Só e mal acompanhada

Caminho sozinha
Penso sozinha
Sinto sozinha
Ninguém me compreende.

Quero outros
Procuro outros
Espero outros
Que me compreendam.

Os outros entendem e eu não
Os outros aceitam e eu não
Os outros acreditam e eu não.

Só eu é que não me compreendo.


30 de agosto de 2018.

Evening by Gabriel Joseph Marie Augustin Ferrier, 1911.


quarta-feira, agosto 29, 2018

10 - 10 dias, 10 filmes

10/10

Bem, tenho que admitir que só com muito esforço é que impeço o meu louco sentido de humor de terminar este desafio com o filme: I Am Not a Witch, do realizador Rungano Nyoni, 2017. Não o faço porque não era justo, eu incluía-o sobretudo por não resistir à piada pessoal, inerente ao título, e o filme é um drama intenso, que nos leva a muitas e importantes questões.

De resto, eu quero terminar com uma comédia e, por mais voltas que a minha mente dê, sei bem que acabarei por escolher simplesmente a melhor comédia de sempre. Mas isso não impedirá as voltinhas. ;)

Pensei em qualquer coisa recente, mas raras são as comédias recentes que passam de sofríveis. A menos que se trate de comédias românticas, essas, por norma, estão muito abaixo de sofríveis. Uma vez, umas amigas convidaram-me para uma maratona de comédias românticas. Só de me lembrar disso, ainda sinto arrepios… e eu nem sequer fui!

Hmm, filmes recentes, não era? Isso lembra-me o dia, há vários anos, em que encontrei aquele que agora é o meu marido, num chat qualquer. Perguntou-me se eu gostava de cinema. Eu respondi que sim e, de imediato, comecei com Murnau e continuei com Fritz Lang, o que o levou a perguntar que idade é que eu tinha, afinal.

Bem, se escolhesse uma comédia recente, ou seja, deste século, seria possivelmente de Wes Anderson: The Grand Budapest Hotel, 2014, ou The Royal Tenenbaums, 2001. Também gostei muito de algumas de Alain Chabat, por exemplo: La Personne aux Deux Personnes, 2008. Mas, como já referi, escolho simplesmente a melhor comédia de sempre e pronto. :)

Monty Python and the Holy Grail, dir. Terry Gilliam,Terry Jones, 1975.

Os Monty Python são absolutamente intemporais. E este filme é uma obra-prima, cujas cenas podem ser profundamente conhecidas e, ainda assim, mais do que continuarem a ser divertidas, continuam a ter o encanto da primeira vez.

Creio que temos que começar também a celebrar o Dia de Monty Python, cá em casa. O problema é que esse dia celebra-se a 10 de maio e nós já temos o início de maio sobrelotado de festas, mas como o que tem que ser tem muita força… ;)

29 de agosto de 2018.


09 - 10 dias, 10 filmes

09/10

2001: A Space Odyssey, dir. Stanley Kubrick, 1968.

O argumento foi criado por Kubrick em parceria com Arthur C. Clarke, que desenvolveu algumas das ideias do argumento e escreveu um livro com o mesmo nome, publicado quando o filme saiu. Assim, quem quiser uma interpretação, leia o livro do Clarke, tendo em atenção que este filme não é uma adaptação de um livro.

Kubrick quis contar-nos esta história sobretudo através de imagens e fê-lo magistralmente. Eu gosto mais da versão gráfica do Kubrick, do que do livro do Clarke.

Neste filme, Kubrick deu-me um novo mundo, um novo caminho que me desafia, que me afasta completamente do universo familiar onde eu me comprometo e desisto, reacendendo uma pequena centelha que me ajuda a abraçar os desafios da minha vida, a aceitar o que não é familiar ou habitual.

Bem, certas pessoas precisam de muito mais energia para serem pessoas normais, do que precisariam para ser extraordinárias. É um bom pensamento, não é? Se calhar, por ser do Camus. ;)

Este é um dos filmes da minha vida, mas não o referi por esse motivo. Tal como tinha dito antes, seria o acaso que me guiaria. Quis o acaso que, ontem à noite, eu voltasse a ouvir uma música que adoro, cuja letra refere precisamente as frases motivacionais do meu parágrafo anterior e que, na minha mente louca, trazem imediatamente Kubrick à minha memória.

Assim, quase a acabar este desafio dos 10 dias/10 filmes, deixo esta pequena referência a um filme absolutamente extraordinário, que comemora este ano o 50º aniversário do seu lançamento.

28 de agosto de 2018.


08 - 10 dias, 10 filmes

08/10

Hoje, chegou pelo correio uma encomenda maravilhosa que trazia, entre outras coisas, incluindo filmes, um daqueles cartões que vemos na entrada dos cinemas, com super-heróis ou assim. O meu filho era, com sempre, o destinatário. Bem, se fosse Batman, Iron Man, Captain America, já para não falar de imensas personagens do Star Wars, tinha sido uma loucura. Mas não, não era nenhum deles. Era um homem, nem novo nem velho, com um ar rebelde, um olhar penetrante e um meio sorriso, com as mãos fechadas, apoiadas na cintura, numa atitude desafiadora. Eu sorri e só não posso dizer que gostei dele, de imediato, porque não era nenhum desconhecido: eu conhecia muito bem aquela fotografia, que era de alguém de quem eu gosto há muito tempo.

– Quem é? – quis saber o meu filho.

– É um super-herói. – Continuei, perante a estranheza do meu filho, – sabes que nem todos os super-heróis são como o Batman, não? Alguns não têm super poderes, mas fazem-nos pensar e isso é muito importante. – Não o fiz, mas tive vontade de acrescentar que também precisávamos que nos ensinassem a estar a sós e aceitar o silêncio, a angústia e a escuridão.

Mas, admito, não deixei de ficar contente com o facto do cartão do Ingmar Bergman não ser em tamanho natural, isso iria certamente afastar as visitas… ;)

Bem, já se passou muito tempo desde a última vez que vi um filme dele. Mas fico muito feliz que alguém, na Suécia, tivesse decidido incluir o meu filho e, por acréscimo, a mim e ao pai dele, nas celebrações do centenário do nascimento do Bergman. Assim, antes do ano acabar, iremos rever uns quantos dos seus filmes. Naturalmente, o miúdo não. Sei bem que ele é ainda muito novo para a filmografia de Bergman.

Contudo, coloquei um desafio ao meu filho, que só tem nove anos e nunca ouviu falar de Bergman: disse-lhe para olhar para a imagem daquele realizador e, depois, na parte de trás do envelope, imaginar e desenhar uma das personagens dos filmes dele. O meu filho foi buscar os marcadores e eu não consegui deixar de sorrir, imaginando a intensidade da cor que aí viria. Fiquei muito surpreendida com o resultado, cuja imagem também incluo. ;)

Concluindo, escolhi O Sétimo Selo, um filme tão negro e profundo como a noite, cuja principal temática se mantém perfeitamente actual: como resistem as nossas crenças, sobretudo a nossa fé, à constatação de que o mundo está cheio de miséria e de maldade?

The Seventh Seal, dir. Ingmar Bergman, 1957.

27 de agosto de 2018.




07 - 10 dias, 10 filmes

07/10

Ikiru, dir. Akira Kurosawa,1952.

O filme, que escolhi hoje, conta-nos a história do sr. Watanabe, um burocrata exemplar, que nunca faltou ao trabalho em 30 anos. Contudo, há algo a que ele faltou sistematicamente: viver a vida. De repente, descobre que tem uma doença terminal e, nos escassos meses de vida que lhe restam, procura em desespero encontrar um verdadeiro propósito, um sentido para a sua vida.

Hmm, o sentido da vida. Todos nós procuramos um sentido para a nossa vida, certo? Bem, eu penso que a ideia, em si mesma, é uma falácia, que nos leva a acreditar que precisamos encontrar algo, possivelmente externo a nós próprios, que dê sentido à nossa vida. Como se a vida, por ela própria, não tivesse sentido, tendo que lhe ser atribuído. Quando, na verdade, tudo o que precisamos para encontrar o sentido da vida é permitir-nos sentir de verdade, intensa e conscientemente, a experiência de estarmos vivos.

O filme mostra-nos ainda um aspecto importante: por vezes, somos uma espécie de mortos-vivos, durante anos a fio, e nem sequer nos apercebemos disso. Se nos esquecemos de focar a nossa atenção em viver a nossa vida, ela simplesmente passa por nós.

Bem, o que quer que seja que nós façamos, por maior que seja o suposto grau de sucesso que atingimos, se não estamos concentrados na experiência de estarmos vivos, sentindo os momentos únicos de cada um dos nossos dias, então, como dizia Samuel Beckett, estar vivo é como estar morto.

Por mais nobres que pareçam as nossas razões, a verdade é que cada vez que nos afastamos das pessoas ou das coisas que nos fazem sentir verdadeiramente vivos, perdemos um pouco do sentido da vida.

26 de agosto de 2018.


06 - 10 dias, 10 filmes

06/10

Sei bem que disse que não iria falar dos filmes da minha vida, mas afinal vou, pelo menos hoje. 😉

Assim, ao sexto filme, entramos no meu género favorito: ficção científica.

Bem, a lista dos filmes de ficção científica que eu vi é imensa, bem menor aquela dos que gostei mesmo muito. Este é, sem dúvida, um dos meus favoritos.

The Fountain, dir. Darren Aronofsky, 2006.

É um filme fantástico! Que mais há a dizer? :)

Só um pequeníssimo comentário: eu adorei vê-lo só, junto da árvore, tão perto da verdadeira canção da saudade, a canção que nos leva da terra ao céu, que fiquei arrepiada e deliciada, tudo ao mesmo tempo. :) E como o filme era suficientemente vago, eu pude interpretá-lo à minha maneira, também gostei disso. ;)

25 de agosto de 2018.


05 - 10 dias, 10 filmes

A meio do desafio dos 10 filmes, escolho um documentário, sobre um tema pertinente no mundo moderno e global: a solidão.

The Age of Loneliness, Dir. Sue Bourne, 2016.

Bem, eu não penso que a solidão, em si mesma, seja necessariamente uma coisa má. Eu sou uma pessoa solitária, é a minha natureza. É através da solidão que eu me relaciono com as coisas que eu amo: livros, músicas, filmes, esculturas, pinturas, fotografias… e pedras, árvores, paisagens. Também é através de momentos a sós comigo própria, que eu encontro alguma profundidade nos meus pensamentos.
Contudo, este tipo de solidão não é forçada, é uma escolha: alguns momentos a sós por dia, que tem a contrapartida da imensa companhia, profundamente significativa, daqueles que eu amo e com quem vivo.

Naturalmente, não é este tipo de solidão que o filme retrata. O filme mostra-nos uma realidade bem diferente, na qual os filhos crescem e saem de casa, os casamentos acabam, os familiares morrem, os amigos distanciam-se. Assim, num tempo em que a esperança de vida aumentou significativamente e num mundo onde já não temos a proximidade da comunidade, muitas vezes, vemo-nos perante uma solidão forçada, absoluta, que é preciso aprender não a suportar, mas a combater.

Esta solidão, que nos magoa e nos entristece, não surge só quando somos mais velhos, é transversal a todas as idades. A solidão é a consequência natural de um mundo cada vez mais superficial. Paradoxalmente, precisamente por causa dessa mesma superficialidade, a solidão não é aceitável, estigmatiza-nos socialmente. Não ter amigos é, no mundo em que vivemos, algo que nos condena e isola imediatamente.

Por outro lado, a globalização e o mundo virtual não diminuem a solidão, bem pelo contrário, aumentam-na significativamente, na proporção da ilusão que as redes sociais nos transmitem, mostrando-nos centenas ou milhares de amigos. Se temos centenas de amigos virtuais, se lidamos com mais umas quantas centenas no mundo real, onde encontraríamos o tempo necessário para conhecer, um pouquinho que fosse, cada uma dessas pessoas? E por que razão haveríamos de tentar estabelecer relações cada vez mais profundas e significativas? Certamente não por uma questão de moralidade, apenas pelo simples facto de que as relações superficiais não nos afastam da solidão.

24 de agosto de 2018.


04 - 10 dias, 10 filmes

04/10

Ontem, coloquei o post do filme Fahrenheit 451, do Truffaut, e a imagem fez-me pensar nos livros a secar ao sol, do Parajanov. O que, por sua vez, me deixou com vontade de escrever… mas não aqui, não agora.

The Color of Pomegranates, Sergei Parajanov, 1968.

Sergei Parajanov mostra-nos os poemas do grande poeta Sayat Nova, transformando muitas das palavras do mestre em imagens maravilhosas.

Sensível, poético e muito belo, este filme é considerado, por muitos cineastas e cinéfilos, uma verdadeira obra-prima.

23 de agosto de 2018.


03 - 10 dias, 10 filmes

03/10

Hoje, como é o dia do aniversário de Ray Bradbury, escolho um filme baseado numa das grandes obras dele: Fahrenheit 451.

Fahrenheit 451, dir. François Truffaut, 1966.

22 de agosto de 2018.




02 - 10 dias, 10 filmes

02/10

Tal como já referi, não escolhi os filmes da minha vida, apenas filmes que, por acaso, estou a ver ou a rever nesta altura.

Bem, neste caso, este filme surgiu pela relação com a imagem do filme anterior, que a minha mente estabeleceu.

Assim, comecei com a imagem do olho de um cavalo, o que me leva para o próximo filme, através da imagem de um cavalo morto em cima de um piano. Para mim, neste filme, para além da cabeça do cavalo, as duas cenas mais fortes são as seguintes: um homem a cortar com uma navalha o olho de uma mulher e uma mão com um buraco no meio, donde saem imensas formigas (cujas imagens também vou incluir).

É precisamente através destas duas imagens, que dois grandes realizadores fazem deliberadamente uma referência a este filme. A primeira surge no filme Spellbound de 1945, de Hitchcock, em que o olho é substituído por uma cortina com esse motivo, que é cortada no mesmo plano; e a segunda em Blue Velvet, de David Lynch, em que a mão é substituída por uma orelha, também cheia de formigas.

A narrativa é de tal modo estranha que, mais do que interpretar o filme, somos de certa forma obrigados a estabelecer a nossa própria relação entre as imagens, a criar uma história.

É o primeiro filme surreal, cujo argumento e cenários foram criados pelo realizador, Buñuel, em parceria com Salvador Dalí – quem mais poderia ser?

Un Chien Andalou, dir. Luis Buñuel, 1929.

21 de agosto de 2018.




01 - 10 dias, 10 filmes

No início do mês, um amigo deixou-me aqui o desafio de, durante 10 dias, postar uma imagem referente a um filme. Bem, as férias acabaram, assim, porque não? :)

Não irei indicar outras pessoas para continuar o desafio, quem quiser participar, que participe e pronto. Hmm, também não obedecerei completamente à regra de colocar apenas uma imagem, sem palavras, mas andará perto disso. ;)

Enfim, certamente não serão os filmes da minha vida, apenas filmes que, por acaso, estou a ver ou a rever nesta altura. E vou colocar o nome do filme, mesmo não sendo suposto.

Comecemos, então.

01/10

A Torinói Ló, The Turin Horse, dir. Béla Tarr e Ágnes Hranitzky, 2011.

O filme começa com uma voz off que, sem qualquer imagem, nos conta esta breve história:

Em Turim, no dia 3 de janeiro de 1889, Friedrich Nietzsche deixa a sua residência no nº6 da Via Carlo Alberto, talvez para dar um passeio ou apenas para ir buscar a sua correspondência.

Não longe dele, ou realmente mesmo muito longe, um cocheiro tem problemas com o seu cavalo teimoso.

Irritado, o cocheiro perde a paciência e começa a chicotear ferozmente o cavalo, que se mantém imóvel.

Nietzsche avança até à multidão e põe fim àquele brutal espectáculo.

O forte e bigodudo Nietzsche salta para a carroça e abraça o pescoço do cavalo, soluçando.

Mais tarde, um amigo leva-o de volta para casa, onde ele fica deitado em silêncio, por dois dias.

Por fim, diz:
- Mãe, sou um idiota.

E a voz off termina, referindo que do cavalo nada sabemos.

Começam, então, as imagens.

20 de agosto de 2018.


terça-feira, agosto 28, 2018

What Are You Waiting For, by Disturbed.

Estou cansada de ser uma boa pessoa, meramente uma boa pessoa. Eu quero ser tudo. Mas não quero voltar a comprometer-me, não quero voltar a desistir. Quero saudar cada desafio que surgir na minha vida. Quero abrir os meus olhos e nunca mais vaguear às cegas.

Ah! E quero saborear cada minuto da minha vida!

Então, de que é que eu estou à espera?...

Disturbed - What Are You Waiting For [Official Lyric Video]

Sem dúvida, uma canção poderosa. Teve um profundo impacto em mim, desde a primeira vez que a ouvi. É uma música inspiradora, determinada, simplesmente fantástica!