A meio do desafio dos 10 filmes, escolho um documentário, sobre um tema pertinente no mundo moderno e global: a solidão.
The Age of Loneliness, Dir. Sue Bourne, 2016.
Bem, eu não penso que a solidão, em si mesma, seja necessariamente uma coisa má. Eu sou uma pessoa solitária, é a minha natureza. É através da solidão que eu me relaciono com as coisas que eu amo: livros, músicas, filmes, esculturas, pinturas, fotografias… e pedras, árvores, paisagens. Também é através de momentos a sós comigo própria, que eu encontro alguma profundidade nos meus pensamentos.
Contudo, este tipo de solidão não é forçada, é uma escolha: alguns momentos a sós por dia, que tem a contrapartida da imensa companhia, profundamente significativa, daqueles que eu amo e com quem vivo.
Naturalmente, não é este tipo de solidão que o filme retrata. O filme mostra-nos uma realidade bem diferente, na qual os filhos crescem e saem de casa, os casamentos acabam, os familiares morrem, os amigos distanciam-se. Assim, num tempo em que a esperança de vida aumentou significativamente e num mundo onde já não temos a proximidade da comunidade, muitas vezes, vemo-nos perante uma solidão forçada, absoluta, que é preciso aprender não a suportar, mas a combater.
Esta solidão, que nos magoa e nos entristece, não surge só quando somos mais velhos, é transversal a todas as idades. A solidão é a consequência natural de um mundo cada vez mais superficial. Paradoxalmente, precisamente por causa dessa mesma superficialidade, a solidão não é aceitável, estigmatiza-nos socialmente. Não ter amigos é, no mundo em que vivemos, algo que nos condena e isola imediatamente.
Por outro lado, a globalização e o mundo virtual não diminuem a solidão, bem pelo contrário, aumentam-na significativamente, na proporção da ilusão que as redes sociais nos transmitem, mostrando-nos centenas ou milhares de amigos. Se temos centenas de amigos virtuais, se lidamos com mais umas quantas centenas no mundo real, onde encontraríamos o tempo necessário para conhecer, um pouquinho que fosse, cada uma dessas pessoas? E por que razão haveríamos de tentar estabelecer relações cada vez mais profundas e significativas? Certamente não por uma questão de moralidade, apenas pelo simples facto de que as relações superficiais não nos afastam da solidão.
24 de agosto de 2018.
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