quarta-feira, agosto 29, 2018

07 - 10 dias, 10 filmes

07/10

Ikiru, dir. Akira Kurosawa,1952.

O filme, que escolhi hoje, conta-nos a história do sr. Watanabe, um burocrata exemplar, que nunca faltou ao trabalho em 30 anos. Contudo, há algo a que ele faltou sistematicamente: viver a vida. De repente, descobre que tem uma doença terminal e, nos escassos meses de vida que lhe restam, procura em desespero encontrar um verdadeiro propósito, um sentido para a sua vida.

Hmm, o sentido da vida. Todos nós procuramos um sentido para a nossa vida, certo? Bem, eu penso que a ideia, em si mesma, é uma falácia, que nos leva a acreditar que precisamos encontrar algo, possivelmente externo a nós próprios, que dê sentido à nossa vida. Como se a vida, por ela própria, não tivesse sentido, tendo que lhe ser atribuído. Quando, na verdade, tudo o que precisamos para encontrar o sentido da vida é permitir-nos sentir de verdade, intensa e conscientemente, a experiência de estarmos vivos.

O filme mostra-nos ainda um aspecto importante: por vezes, somos uma espécie de mortos-vivos, durante anos a fio, e nem sequer nos apercebemos disso. Se nos esquecemos de focar a nossa atenção em viver a nossa vida, ela simplesmente passa por nós.

Bem, o que quer que seja que nós façamos, por maior que seja o suposto grau de sucesso que atingimos, se não estamos concentrados na experiência de estarmos vivos, sentindo os momentos únicos de cada um dos nossos dias, então, como dizia Samuel Beckett, estar vivo é como estar morto.

Por mais nobres que pareçam as nossas razões, a verdade é que cada vez que nos afastamos das pessoas ou das coisas que nos fazem sentir verdadeiramente vivos, perdemos um pouco do sentido da vida.

26 de agosto de 2018.


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