quarta-feira, outubro 17, 2018

Take me home where I belong...

Boa noite. :)

Estou a ouvir AURORA, na maravilhosa música Runaway.

And I was running far away
Would I run off the world someday?
Nobody knows, nobody knows
And I was dancing in the rain
I felt alive and I can't complain

But now take me home
Take me home where I belong
I got no other place to go.

Hmm… já te disse, alguma vez, que eu acredito que quando encontramos uma pedra esculpida pela natureza, com o formato de um coração, isso significa que estamos no nosso caminho de regresso a casa, à nossa verdadeira casa?

Antigamente, deixava pedras-coração nas encruzilhadas, para que alguém as encontrasse. Depois, deixei-me disso, quando as minhas crenças passaram a precisar da aprovação dos outros, para poderem continuar a existir.

Bem, talvez não haja qualquer problema em seguirmos o caminho dos outros, mas esse caminho não nos levará a lado nenhum. E eu quero regressar a casa, ao lugar onde pertenço, onde sempre pertenci, onde sempre pertencerei.

Sei bem que o meu caminho será, necessariamente, um caminho solitário. E também sei que me assustará, muitas vezes. Nessas alturas, tenho que me lembrar de velhos ensinamentos, sabendo que não tenho razão para desconfiar do meu mundo, porque ele não está contra mim. Rilke dizia que se o mundo tem sustos, são os nossos sustos, se tem abismos, são abismos que nos pertencem, se tem perigos, temos que tentar amá-los.

Ah Como eu quero ir ao encontro dos meus sustos e dos meus abismos!

Entretanto, fiz uma pausa neste post e escrevi noutro lado, o seguinte:

«Eu adoro o nordeste Transmontano. Mas talvez seja apenas por ter nascido lá… ;) Bem, para começar, há a maneira como o tempo muda: perdendo, logo no primeiro segundo, a velocidade alucinante da seta do tempo e, à medida que os dias passam, voltando cada vez menos linear e mais cíclico. Há aqueles momentos maravilhosos em que se acorda a meio da noite, com o silêncio e o sono interrompidos por alguma raposa aventureira. Há os pequenos instantes, ao longo do dia, em que simplesmente se repara nas nuvens e na cor do céu. Há as memórias do pôr-do-sol. Há os passeios nocturnos, nas noites de lua cheia, em que tudo na floresta é intenso e mágico. Há as noites cheias de estrelas. E isso, por si só, já seria imenso. Mas há muito mais. Há as velhas lendas, as grutas inexploradas, os castros… há a paisagem. Uma paisagem muito pouco humanizada, que nos desperta. E o que é que se compara ao momento em que o mundo simplesmente nos desperta?

Bem, uma vez uma amiga que eu levei lá, sentiu profundamente esse despertar e, a partir dali, as férias dela passaram a ser, ano após ano, no deserto, em Marrocos. Mas, como eu lhe disse vezes sem conta, só sentimos esse despertar, quando nos integramos completamente na paisagem. E só nos integramos verdadeiramente na paisagem, quando essa paisagem é pura e simplesmente o corpo da nossa tribo. Hmm, há algumas semanas, quando eu andava por outros lados, também à procura da minha tribo, citei uma ou outra vez a frase do Jorge Luis Borges: Que rio é este pelo qual corre o Ganges? Pois… A paisagem que moldou a tribo, de alguma maneira, é imutável. Os montes tornam-se vales, os rios correm em diferentes leitos, as velhas árvores desaparecem e outras, de diferentes espécies, passam a ser dominantes. Tudo muda e, ainda assim, a paisagem que foi corpo da tribo, ainda é. :)

Antes de terminar, permitam-me que explique este post e, sobretudo, este comentário, neste grupo. Eu não quero apenas pertencer a uma comunidade virtual. Eu quero encontrar a minha tribo. Hmm, eu não estou a dizer que a vou encontrar aqui, estou só a dizer o que me motiva. :) »

Sim, bem sei, esta noite já escrevi demasiado. :P

Termino, então, com mais uma pintura. Desta vez, com uma mulher caminhando na floresta, parecendo assustada e só, mas que, por certo, não está nem só nem verdadeiramente assustada. ;) Hmm, há nela algo louco, possivelmente porque é mesmo louca. ;) 

É uma pintura de Gottlieb Theodor von Kempf Hartenkampf.



Sem comentários: