sábado, setembro 29, 2018

Quero o meu outono

Com temperaturas tão altas, é difícil entrar no espírito do outono, mesmo com a música Autumn Leaves, de Chet Baker.

Hmm, eu quero o meu outono, com dias frescos e agradáveis, em que os seus inconfundíveis aromas se espalham por toda a casa: tartes de abóbora, maçãs assadas, biscoitos de especiarias, pão de bolota.

Eu quero ver as minhas taças de marmelada a secar ao sol suave e não tórrido, como ainda é e já não deveria ser.

Quero as minhas tardes inteiras a rir e a rodopiar, enquanto tento apanhar as folhas que caem, antes delas chegarem ao chão. E não entendo este tempo em que nem brisa há.

Quero o chocolate quente ao fim do dia, ou o chá com scones, e ficar contente com aquele calorzinho bom, que me invade.

Quero voltar aos pratos intensos e quentes, que o outono traz de volta.

Quero os meus longos passeios pelos bosques, cada dia mais belos e maravilhosos. Quero os meus fins de tarde a apanhar bolota, num mundo onde a cor transforma cada folha, deixando-a única.

Quero brincar com as folhas e com as pedras, em efémeras construções de Land Art.

Quero sentir a chuva de outono e saltar nas poças de lama, com o meu filho.

Quero sonhar, imersa no mundo com as cores e os aromas de outono, e ter sonhos maravilhosos!


Autumn by Georges Picard (1857-1942).


sexta-feira, setembro 28, 2018

Happiness is all I need right now


Happiness is all I need right now.

Hmm, creio que vou mudar de música, por mais que goste da música Go To Mexico, da menina Cassandra Wilson. :)

Isto fez-me lembrar o tempo em que eu escrevia com o pseudónimo de Cassandra Sutra. Estranhas esse nome? Se bem me lembro, era perfeitamente adequado. :P Mas isso foi há muito tempo, entretanto a minha escrita mudou. Bem, o meu sentido de humor manteve-se mais ou menos igual, mas o meu nível de transgressão regressou a valores normais. ;)

I'm Only Joking é a música que estou a ouvir agora. Kongos, pois claro! :D

Bem, não restou praticamente nada da escrita desse tempo, só um pequeno conto permaneceu. Um conto de que ninguém gostou, a não ser eu própria. :( 


Os meus pressupostos eram: contos quase completamente absurdos, quase divertidos e que não tivessem propriamente sensualidade, mas que fosse quase sensuais. E consegui tudo isso! ;)

Agora, é outro tempo. Os pressupostos da minha escrita já não envolvem a pura diversão. Na verdade, já nem sequer escrevo contos, só uns posts absolutamente insignificantes, aqui e ali, em que um ou outro é quase interessante e quase motivador. Hahahaha... pelo menos, mantive-me no quase. :P

Mas tenho saudades do tempo em que escrevia outras coisas, coisas que bem podiam ter logo no início a citação desta parte da letra, da música que ainda estou a ouvir:

I'm only joking
I don't believe a thing I said
What are you smoking
I'm just fucking with your head

Então, achas que é possível não gostar de uma música com uma letra destas? Hahahahaha…

Para terminar, deixo uma imagem de uma dançarina. Não a escolhi por ser uma imagem não convencional, escolhi-a porque é simplesmente maravilhosa. A fotografia foi retirada da net, não sei quem é o autor.



quinta-feira, setembro 27, 2018

Mais um dia cheio de sol

Hoje, é um belo dia, cheio de sol, que a voz deliciosa de Hindi Zahra, em Stand Up, deixa ainda mais solarengo.

Standing on your two knees baby, tell me what do you need
Oh, Stand up on your two feet baby, that's how its got to be...

Hmm, será que te posso ainda dizer que esta semana vimos a comédia de Shane Black, The Nice Guys, de 2016.

– Shane Black... não estou a ver quem é.
– Fez Lethal Weapon I e II, nos anos oitenta. The Last Boy Scout, nos anos noventa, com o Bruce Willis.
– Hmm... não sei se quero ver uma comédia dele. E como é que sabes assim tanto acerca desse senhor?
– Estou a ver no IMDb.

Bem, Russell Crowe e Ryan Gosling arrasam, nesta comédia que merece bem o nosso tempo, que é inteligente e divertida, mesmo muito interessante. :)

Hmm... mais alguma coisa? Ah! Bom dia! :D



Erotismo

Hmm, é só mais uma noite em que não consigo dormir. O melhor é aceitá-la e pronto.

Estou a ouvir Black Velvet, de Alannah Myles. É uma música que eu conheço bem. Mesmo assim, surpreende-me cada vez que a ouço, com a sua profunda sensualidade. ;)

Uma das muitas coisas absurdas do nosso admirável mundo novo é que, sem grandes reservas, deixamos que sejam comédias românticas sofríveis e, o que ainda é pior, anúncios banais a definirem a nossa sensualidade. Depois estranhamos que as nossas relações sejam profundamente monótonas e, muitas vezes, pouco satisfatórias.

Eu entendo que não há verdadeiro erotismo, se não sabemos do que gostamos e do que gosta o outro. O erotismo não se traduz numas quantas fórmulas gastas, mas sim na vontade de queremos entender-nos e entender o outro, na aceitação e na partilha das fantasias sexuais.

A música mudou, agora é Mad About You, de Hooverphonic.

Feel the vibe,
Feel the terror,
Feel the pain,
It's driving me insane.

Hmm... o melhor é ir dormir. Ou não. Mudemos apenas de assunto.

Assim, creio que vou transcrever um texto que publiquei noutro lado, em 2008. ;)

O título era: Vem, vem cá...

The Hosting of the Sidhe, W. B. Yeats

The host is riding from Knocknare
And over the grave of Clooth-na-bare;
Caolte tossing his burning hair
And Niamh calling Away, come away:
Empty your heart of its mortal dream.
The winds awaken, the leaves whirl round,
Our cheeks are pale, our hair is unbound,
Our breasts are heaving, our eyes are a-gleam,
Our arms are waving, our lips are apart;
And if any gaze on our rushing band,
We come between him and the deed of his hand,
We come between him and the hope of his heart.
The host is rushing 'twixt night and day,
And where is there hope or deed as fair?
Caolte tossing his burning hair,
And Niamh calling Away, come away.

Niamh, Niamh... Onde está o teu cavaleiro de cabelos de fogo que cavalga veloz e destemido entre noites e dias? Quem escuta ainda o teu chamamento, minha senhora das fadas?... Eles já nem sequer sabem que quando tu chegas, os ventos acordam e as folhas rodopiam pelo ar...

“Vem, vem cá” murmura a tua voz, cada vez mais longe... e o meu coração fica despedaçado, senhora minha, porque não se pode perder o teu chamamento, que transforma as noites de luar em noites misteriosas e mágicas, onde todos os sentidos te enaltecem. Onde nós e o mundo nos tornamos outros, para que no tempo fora do tempo e no espaço fora do espaço, o teu cavaleiro te encontre, senhora.

Celebramos o vosso encontro. E as nossas faces pálidas à luz da lua são os vossos rostos na noite e ao luar. São vossos os cabelos soltos, os olhos brilhantes e os lábios entreabertos. E tu, senhora, regressas de verdade e encontras o teu amado...

Senhora, que os nossos corpos sejam de novo templos, que reencontremos a pureza que nos permita honrar-te com todo o nosso amor e desejo, na floresta que é a tua casa.

Les lucioles (Detail) by Henri Camille Danger, 1896.


quarta-feira, setembro 26, 2018

Café, preciso de café...

Hmm, não há necessidade de mais café, estou completamente desperta.

Só preciso continuar a repetir, mais umas quantas vezes. Na verdade, mesmo muitas. Pois, sessenta e duas mil e quatrocentas repetições fazem uma verdade.

Hmm, nunca te interrogaste sobre o que terá levado o Aldous Huxley a escolher este número e não outro?

Depois, torna-se uma verdade inquestionável. E quem é que quer verdades inquestionáveis? :(

Não seria melhor uma listinha, para me manter acordada?

Cássia, manjerona, cardamono, endro, nardo, tomilho, abrótano, perpétua, urze, zimbro, cardo, cinamomo, junco, alfeneiro, amaranto, narciso, jacinto, açafrão, girassol, acanto, rosa, calêndula, violeta, tulipa, lírio, cedro, murta, jasmim, buxo, aroeira, hera.

Estranhaste a lista? Queres que te diga o que me levou a escolher estas plantas e não outras? Na verdade, não escolhi, a lista não é minha. São algumas das plantas referidas num poema do século XVII, de um grande poeta italiano: Giambattista Marino.

Vou copiar a parte da rosa:

«Arde a rosa de vermelho fogo,
o odor suspira e o orvalho é pranto.»

Maravilhoso, não é? :)

Hmm, onde é que está o café?...


Bolero, de Ravel

Ando com insónias. :(

Talvez o Bolero, de Ravel, me ajude a adormecer.

Hmm, como alguém diz nos comentários deste vídeo:

«You can't compose a song that has the same melody playing for over fifteen minutes and make it sound good.»
Maurice Ravel: Hold my beer.

:P

Esta música é incrível, faz-me pensar em tudo o que é eterno e infinito. :)

Zbigniew Rybczynski, um cineasta russo, fez um filme - The Orchestra, 1990 - baseado nesta música, onde coloca as personagens a subirem ao céu, através de uma escada sem fim.

Por acaso, as personagens são os protagonistas da revolução soviética, que ascendem ao céu, quais anjos e querubins. ;)

É tudo, deixo-te com esse belo pensamento e esta música maravilhosa, agora vou dormir. :)

Link: Maurice Ravel - Bolero

terça-feira, setembro 25, 2018

An Art Made of Trust, Vulnerability and Connection, by Marina Abramović

Hoje, deixo aqui um vídeo de uma artista extraordinária, que nos tira da nossa zona de conforto e que abre a nossa mente a novas possibilidades.

Marina Abramović tem mais de 70 anos e é considerada a avó da arte performativa.

Vamos, então, ouvi-la na sua própria voz.



sábado, setembro 22, 2018

Só uma história conhecida

Olá, doçura. :)

Hoje, tenho uma história deliciosa para ti. Provavelmente já conheces, mas eu vou contá-la na mesma, enquanto ouço Kongos. :)

Woah come with me now
I'm gonna take you down.

:P

Numa certa noite, um polícia viu um homem bêbado à procura de algo, junto a um candeeiro. Aproximou-se e perguntou-lhe se precisava de ajuda. O outro homem disse que sim, tinha perdido as chaves de casa. Após mais de 20 minutos a vasculhar tudo, sempre junto ao candeeiro, sem encontrarem nada, o polícia parou e perguntou ao outro: 

- Tem a certeza de que perdeu as suas chaves aqui?

- Claro que não! Eu não sei onde as perdi – respondeu o outro homem.

- Então, porque as procura aqui? – quis saber o polícia, incrédulo.

- Ora, porque aqui há mais luz!

Não, não é uma anedota. É uma metáfora, que se aplica a todos nós. Todos nós temos desígnios, de diversas naturezas, que simplesmente não se cumprem, porque insistimos em procurar o que nos falta onde é mais fácil procurar, mesmo sabendo que a solução não está lá. 

Take it from me! (Nah, é só o título da música que estou a ouvir agora. ;) )

Hmm, queres uma fatia de bolo caseiro? Pão-de-ló com fios e doce de ovos… mais doce ainda que o pecado! ;)



terça-feira, setembro 18, 2018

Comentários soltos, sem data. 06

Olá. Nem sou capaz de dizer como me sinto esta noite. Vou comemorar. Que queres que te diga? Reescrevi a história do Parsifal (sim, sim, apenas e só porque não tinha nada melhor para fazer) e gostei tanto do final (que, a propósito, me apanhou completamente de surpresa!) que decidi comemorar. :)

Bem, se vou sentir esta alegria toda, o melhor é não ficar por esta história. ;)

And now something completely different... o meu filho, esta semana, do alto dos seus seis anos, redefiniu a minha demanda espiritual, quando eu lhe disse o nome de uma divindade e ele disse que então não era um nome, era uma palavra mágica. O que pensas disso?  :)

Dance of the Nymphs by Nikolaos Gyzis (1842-1901).


Comentários soltos, sem data. 05

Hoje chove, o que é fantástico!  :)

Até agora tem sido um outono muito solarengo. Mas, não sei bem porquê, quase já não ando à chuva. Creio que simplesmente me tornei citadina e esqueci muito do que não deveria ser esquecido.

Hmm, vou usar uma das minhas palavras favoritas: antigamente. :P Antigamente, passear na chuva era algo que me retirava da rotina, que me despertava, que me fazia ver o mundo com um olhar novo, de quem ainda não viu tudo. E não falo de uma chuvinha que mal nos molha, pelo contrário, refiro-me àquela chuva forte e intensa, de inverno, que rapidamente nos gela até aos ossos. :)

O frio acorda-nos profundamente. O problema do mundo moderno não está tanto no frio, como na ausência dele. Muitos de nós vivemos a maior parte das nossas vidas dentro de quatro paredes, sempre com ar condicionado e isso entorpece-nos, adormece-nos, quer queiramos quer não.

Depois, muitos vivem em belos lugares do mundo onde a mudança das estações mal se nota e isso ainda os adormece mais.

Eu não vejo nenhum sentido em reverenciar a mudança das estações per se. :(

Uma das muitas razões por que eu amo Trás-os-Montes é, precisamente, por ser um dos lugares do mundo onde a mudança das estações é mais visível. E se sente mais!

De resto, uma lareira só é verdadeiramente acolhedora num dia intensamente frio. :)


Comentários soltos, sem data. 04

Olha, não sei porquê, lembrei-me da série Rectify e tentei imaginar o que poderia ser estar 20 anos fechada num cubículo, sem nunca poder ouvir música. :(

Do que eu teria mais saudades, da música ou do som da chuva? ;)

Uma cena que me impressionou imenso aconteceu logo na primeira temporada, quando uma mulher lhe fala do modo como gosta da chuva forte num dia quente de verão e ele diz que nada daquilo é real para ele, nem sequer a chuva.

Bem, eu adoro as sensações que vem com o aroma da terra molhada, sobretudo quando isso acontece num dia quente de verão e a intensidade desse cheiro é quase excessiva. :)

Hmmm… também adorei o momento em que ele vai a um museu ver uma pintura, que já tinha visto num livro imensas vezes, e, por alguma razão complexa da mente, é incapaz de sentir a alegria e a admiração que seriam expectáveis. ;)

Sabes, há uma pintura que eu vejo imensas vezes, um quadro antigo de um pintor famoso que, para mim, ao contrário do que indica o título do quadro, representa uma divindade pagã. Por vezes, questiono-me se o meu amor por esse deus existiria se não fosse essa pintura? Ou (que sei eu?) talvez o meu amor por essa pintura só exista por causa de um deus. ;)


Comentários soltos, sem data. 03

Se me permites, vou fazer uma citação, do filme: Beasts of the Southern Wild.

O momento em que Hushpuppy incendeia o barco com o cadáver, que se afasta. E eles dizem: «I watch a ship as she disappears. There, she is gone. And we cry for this. But she's not gone. She's just as real as when she left me. And somewhere else, other voices are calling out: "Here she comes." And that is dying. Here she comes!»  :)

Já viste como a palavra saudade perdeu o seu sentido original? Onde está a palavra intraduzível que nasceu na Galécia atlântica? O doce-amargo português foi esquecido, perdeu-se a alegria, ficando só a tristeza. A palavra que os ingleses traduziam como «the joy of grief», nos tempos modernos parece ser só dor, nada mais do que sentimento de perda ou de ausência.

Contudo, na sua forma arcaica, daqui, da velha Galécia, a saudade na voz do povo era acima de tudo: «Suidade minha, quando te veria?».

É uma pena que se tenha perdido o sentido do reencontro, patente na citação que eu transcrevi, do filme Beasts of the Southern Wild.

Já agora, um destes dias vi um filme de ficção científica que na parte final, em escassos 15 segundos, me fez sentir uma alegria enorme, porque traduzia na perfeição a minha vivência da saudade, numa abordagem bem diferente da habitual, distinta inclusivamente em termos temporais.

About time, 2013. Bem, o filme é quase banal, mas…  ;)

OK, os tais 15 segundos: «The truth is I now don't travel back at all, not even for the day, I just try to live every day as if I've deliberately come back to this one day, to enjoy it»

Adoro a ideia de olhar para o meu dia, por mais insignificante que seja, e imaginar que fiz uma viagem no tempo, que escolhi este dia, precisamente este dia, aparentemente banal e rotineiro, para o viver de novo. Tudo se altera, sabes? :)

Que mais posso eu dizer? Eu quero ter saudades! Mais do que ter saudades do que vivi, quero dedicar-me a criar as saudades no meu futuro e no futuro daqueles que eu amo. E estou sempre a tentar manter isso na minha mente, a tentar viver a saudade...  :)


Comentários soltos, sem data. 02

Não gosto de listas, mas gosto de sonhos. :)

No meu sonho, eu estava com sede. Sentei-me na cama e decidi teleportar-me até à cozinha. O que fiz. E vi-me de imediato numa cozinha, que não era a minha. Fiquei um pouco assustada, mas estava sobretudo curiosa. Espreitei a sala daquela casa e vi lá uma miúda a brincar. Era uma criança que eu conhecia: uma colega do meu filho, que tem o nome de uma flor. E aí pensei que o melhor era sair dali sem que me vissem. Voltei rapidamente para a cozinha, mas, para meu grande espanto, à minha frente materializa-se o Griezmann. Ele trazia na mão o troféu do Cristiano Ronaldo e, aparentemente, queria escondê-lo ali. O que me fez pensar que estava a sonhar e que, possivelmente, andava a ver futebol a mais. Pois. Eu gosto de ver um jogo de futebol, não tanto pelo futebol em si, que não me diz grande coisa, mas mais pelo modo como a minha mente divaga durante aquele tempo…  ;)

Voltando ao sonho: deixo aquele apartamento imediatamente e caminho descalça por uma rua deserta, quando vejo o meu marido a dirigir-se a mim, trazendo na mão um maravilhoso par de sapatos vermelhos. E, nessa altura, o despertador acordou-me.  :(

Eu gosto de sonhar. Quando alguém me diz que não se lembra dos seus sonhos, acho sempre isso triste. :(

Hmmm… Viste a nova temporada de Black Mirror? Sei lá, San Junipero também me deixou triste. Bem, eu não teria dificuldade nenhuma em rejeitar tudo aquilo: praia paradisíaca, sol, sexo e rock’n’roll. Mesmo assim, continuo a achar aquela possibilidade assustadora. A ideia da tecnologia poder transformar uma viagem na viagem é, no mínimo, incómoda. Não é?... Não sei o que sentir acerca dessa eternidade. Mesmo em miúda, o final «viveram felizes para sempre» causava-me verdadeiros pesadelos. O que levou o meu pai a acabar com as histórias de princesas e contar-me, noite após noite, a história de uma batalha.

Não sei em que momento percebi que também se tratava de algo eterno, algo que se repetia vez após vez, sempre com o mesmo final. Mas essa eternidade não me assustava, nem assusta, da mesma maneira. Gosto de pensar que, à semelhança da Teoria dos Muitos Mundos, o final daquela batalha está distribuído por infinitos universos paralelos, contemplando todas as possibilidades.

Hmm… Sim, bem sei, estou a aborrecer-te. Então? É o que eu faço. ;)


Comentários soltos, sem data. 01

Encontrei, num documento do word, uns quantos comentários que eu escrevi a um amigo, ao longo dos últimos três anos. Vou transcrever alguns deles, só porque sim. Sem data, pois no documento não tinham a data. São pensamentos soltos, sem nenhuma importância, mas que eu quero preservar, quem sabe para me surpreender mais tarde? ;)

Olá. Como estás?  :)

Quanto a mim, bem, passei mais duas semanas nas minhas montanhas. Regressei e já sinto saudades. Já te disse como os sonhos são diferentes, naquela velha casa de granito? Estranhos e mágicos. E a magia é algo que escasseia no meu mundo citadino. Será disso que tenho mais saudades? Não sei, de verdade. Talvez do tempo, do tempo que parece perder a forma linear e a rapidez dos dias na cidade, para se espreguiçar e avançar de um modo muito peculiar, permitindo-nos um luxo raro no mundo moderno: acordar por nós próprios e dormir quando temos sono, ou comer quando temos fome.

Já viste como os nossos pensamentos se alteram após uns dias sem o controlo contínuo de um relógio? Quando deixamos de contar os minutos e as horas, a nossa visão do mundo transforma-se. Para mim, pelo menos, isso é verdadeiro. E o que eu aceito como verdadeiro, define-me.  ;)

Hmm… a noite. Mais do que os dias, adoro as noites nas minhas montanhas. Noites em que mal se dá pela presença humana. Noites noitíssimas.  :)

Também adoro a floresta. Aqui a floresta é demasiado humanizada. Lá a floresta ainda é selvagem, um lugar onde facilmente nos podemos perder… ou encontrar-nos. Como encontramos rochas de granito fantásticas, que nunca imaginaríamos que pudessem lá estar. Sente-se a cada instante todo aquele velho mundo a vir ao nosso encontro, a maravilha que pode ser descoberta, em cada mudança de horizonte. :)

Hmm, na verdade, não há nenhum imperativo, nada tem que ser descoberto, pois não? Que procura de um qualquer sentido se pode comparar a acordar, quando se acordar, e simplesmente estarmos felizes?...  :)




sábado, setembro 01, 2018

Soldados bolota

Às voltas com velhos papéis soltos, encontrei este diálogo, que já tem um par de anos.

– Queres ajudar-me a apanhar bolotas para fazer pão de bolota?

– Não, isso dá muito trabalho.

Assim, acabamos a apanhar bolotas para criar uma legião de soldados bolota.

Mais tarde, no mercado, eu coloquei as compras no saco das bolotas, que era o único que tinha. Já a caminho de casa, a criança lembrou-se e quis que parássemos e eu tirasse imediatamente as compras do saco.

– Vais destruí-los.

– Lamento. Agora, não há nada a fazer.

– O quê? Já estão destruídos? – E acrescentou, com um horror em crescendo, – como é que sabes? Já fizeste isto antes?

– O quê? Chacinar uma legião de soldados bolota? – Perguntei com um sorriso. – Garanto-te que é a primeira vez.

Admito que gostei do diálogo e fiquei contente por a minha criança se ter queixado.

Marco Aurélio dizia que se não nos queixássemos, dizendo que fomos ofendidos, a ofensa desapareceria. Creio que ele tinha toda a razão. O problema é que quando simplesmente avançamos e nem sequer nos queixarmos, não é só a ofensa que desaparece, também deixa de ter importância quem nos ofendeu.

(Imagem retirada da net, não sei quem é o autor.)