terça-feira, fevereiro 14, 2006

Outras tardes...

Pequenos bandos de pardais a voarem por cima da tua cabeça, imagens reflectidas no chão. Sombras que brincam na nudez da terra transparente, quase luminosa. Carreiros pelo meio dos canteiros de um verde luxuriante. Amores-perfeitos. E tantas outras flores com cores quentes, que deslumbram e não precisam de nomes. A fonte por trás de ti, o barulho da água a cair, devagarinho, muito devagarinho. Terá sido isso que fez o tempo quase parar? O instante em que o tempo se transforma. Depois fechas os olhos e o teu mundo fica vermelho, laranja. Intenso e quente. Algo te faz cócegas na palma da mão, abres os olhos e vês a borboleta. Instantaneamente, tens vontade de chorar e sorris. A borboleta parte. Fechas novamente os olhos. Na tua mente uma frase de Shelley: "Dormitei e, numa revelação, vi o que não é possível ver com os olhos abertos". Brincas e, de repente, estás bem no meio de um jardim de trapézios azuis, um jardim que não é teu.

À tua volta vozes, muitas vozes. Voltas-te ainda mais para dentro de ti própria. Outras vozes. Agora, falam-te na linguagem mítica e tudo o que te dizem são fantasias intemporais, sonho e magia. Gibran a falar-te da alma, Chopra a insistir contigo para que continues a interrogar-te: "quem sou eu? quem sou eu?", Redfield a ensinar-te a reconhecer o caminho. E, de repente, a voz bem terrena da Yourcenar a mandar-te ter cuidado com os livros, com as vozes que encontras nos livros, insistindo contigo que a realidade não está nos livros, porque não a contém inteira. Mas, aqui, de olhos fechados, sentindo apenas o sol, tens a realidade por inteiro... mas ainda sentes a falta das vozes que te falam dos caminhos para novos mundos, não sentes? As tuas luzes de esperança e de verdade. Mais do que exercícios de memória ou contos do passado, essas vozes profetizam o que está à tua frente, mas é ainda o sol que te mostra a mais clara de todas as claridades. O sol...

18.09.2000

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