A mulher sem rosto aproximou-se da criança que olhava as estrelas com ar sonhador. A criança notou a presença da mulher sem rosto por trás de si, mas não se virou. A criança continuava a olhar as estrelas e a falar consigo própria acerca da beleza e da magia de tantas luzes.
Embrulhada nas suas roupas escuras, a mulher sem rosto apresentava uma máscara de velha. Naquele momento, permanecia quieta e calada, por trás da criança. E parecia ser capaz de ficar assim para sempre.
Estendendo um braço para a imensidão de céu à sua frente, a criança apontou uma estrela.
— Olha! Aquela é a minha estrela. Não há outra mais bela.... e é minha. Vês como brilha?
Após uns instantes de silêncio, a mulher sem rosto falou com uma voz cansada:
— Está muito longe, muito longe mesmo... Sabes, a luz demora imenso tempo a percorrer o espaço entre a estrela e a tua janela. Tanto tempo que quando tu olhas e vês a brilhante luz daquela estrela, podes estar apenas a olhar para os restos luminosos de uma estrela morta.
A criança não entendeu a mulher sem rosto. Estrelas mortas? A criança abanou vigorosamente a cabeça, fechou e abriu os olhos.
— Vês como brilha? — murmurou para si própria.
A criança pediu outra companheira. Desta vez escolheu uma jovem fada, contadora de histórias, de máscara sempre sorridente. A criança gostava do sorriso da jovem fada. Mas, por precaução, não lhe falou das estrelas.
— Minha fada querida, fala-me do mundo místico dos sonhos...
E a jovem fada, sempre de máscara sorridente, começou a cantarolar histórias em versos e rimas. Nesse instante, a criança soube que não queria aquela companheira. Mas também sabia que não valia a pena escolher outra.
Quando chegou a hora de dormir, a criança recusou a história para adormecer. Apenas quis ficar sozinha. E, de olhos fechados, a criança disse a si própria que quando fosse capaz de deixar que outros encontrassem a sua alma, estaria no mundo místico e iluminado dos sonhos.
Na manhã seguinte, a criança não pediu uma companheira. A criança dirigiu-se ao seu computador e escreveu apenas que queria falar com Deus. Para espanto da criança, a resposta demorou alguns minutos a surgir. E dizia o seguinte:
"Esta noite vai até à tua janela e escolhe uma estrela".
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