quinta-feira, novembro 18, 2021

Coisas que não há que há

Hoje, no dia do aniversário do saudoso Manuel António Pina, deixo aqui um poema do qual eu gosto muito: Coisas que não há que há.


Uma coisa que me põe triste

é que não exista o que não existe.

(Se é que não existe, e isto é que existe!)

Há tantas coisas bonitas que não há:

coisas que não há, gente que não há.

bichos que já houve e já não há,

livros por ler, coisas por ver,

feitos desfeitos, outros feitos por fazer,

pessoas tão boas ainda por nascer

e outras que morreram há tanto tempo!

Tantas lembranças de que não me lembro,

sítios que não sei, invenções que não invento,

gente de vidro e de vento, países por achar,

paisagens, plantas, jardins de ar,

tudo o que eu nem posso imaginar

porque se o imaginasse já existia

embora num lugar onde só eu ia…


Pintura de Amadeo de Souza Cardoso, 1917.

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