sexta-feira, setembro 25, 2020

Uma rapariga à janela

Não basta abrir a janela 

Para ver os campos e o rio. 

Não é bastante não ser cego 

Para ver as árvores e as flores. 

É preciso também não ter filosofia nenhuma. 

Com filosofia não há árvores: há ideias apenas. 

Há só cada um de nós, como uma cave. 

Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; 

E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, 

Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.


Alberto Caeiro


Hoje, o facebook de uma amiga trouxe este velho poema. Bem, na minha vivência da espiritualidade, este poema de Pessoa reflecte uma das minhas ideias principais: a noção de que o sujeito que vê e o acto de ver não são a mesma coisa. Esta noção leva-me à procura de uma representação do mundo, onde eu não detenho o foco central, mas sim o mundo em si mesmo. Contudo, a nossa visão do mundo e sua consequente representação, com o foco no sujeito, em quem vê, mesmo sendo um conceito moderno, está demasiado entranhada e não é nada fácil libertarmo-nos dela. 

Bem, para terminar, deixo uma janela para um mundo antigo, através da fantástica banda Sangre Cavallum e deste maravilhoso álbum Veleno de Teixo. E ainda uma rapariga à janela, de Salvador Dalí.



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