Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
Alberto Caeiro
Hoje, o facebook de uma amiga trouxe este velho poema. Bem, na minha vivência da espiritualidade, este poema de Pessoa reflecte uma das minhas ideias principais: a noção de que o sujeito que vê e o acto de ver não são a mesma coisa. Esta noção leva-me à procura de uma representação do mundo, onde eu não detenho o foco central, mas sim o mundo em si mesmo. Contudo, a nossa visão do mundo e sua consequente representação, com o foco no sujeito, em quem vê, mesmo sendo um conceito moderno, está demasiado entranhada e não é nada fácil libertarmo-nos dela.
Bem, para terminar, deixo uma janela para um mundo antigo, através da fantástica banda Sangre Cavallum e deste maravilhoso álbum Veleno de Teixo. E ainda uma rapariga à janela, de Salvador Dalí.
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