quarta-feira, novembro 24, 2021

Swing

Dentro de cada um de nós existe um swing próprio, autêntico. Algo com que nascemos, que é só nosso, que não se pode ensinar ou aprender. Algo que não podemos esquecer. Mas ao longo do tempo, o mundo pode privar-nos desse swing. Fica enterrado dentro de nós, sob o peso das desculpas que arranjamos para o que devíamos ter feito. Algumas pessoas até se esquecem de como era o seu swing...»

Somos condicionados, desde crianças, a pensar que há um caminho para a felicidade, de tal modo que nos habituamos a ver a felicidade como algo que irá acontecer no futuro, quando várias premissas se concretizarem. 

Na verdade, não há nenhum caminho que nos conduza à felicidade, porque a felicidade é que é o caminho.

Contudo, para entrar nesse caminho, precisamos do nosso swing... e, por mais que eu esteja a ser repetitiva, irei continuar a dizer isto. Faço-o, em parte, para me ensinar a mim própria. Também eu preciso de reencontrar o meu swing e dançar nas clareiras ao luar.

:)

Termino com esta pintura mágica: Le villi, 1906, de Bartolomeo Giuliano.



quinta-feira, novembro 18, 2021

Coisas que não há que há

Hoje, no dia do aniversário do saudoso Manuel António Pina, deixo aqui um poema do qual eu gosto muito: Coisas que não há que há.


Uma coisa que me põe triste

é que não exista o que não existe.

(Se é que não existe, e isto é que existe!)

Há tantas coisas bonitas que não há:

coisas que não há, gente que não há.

bichos que já houve e já não há,

livros por ler, coisas por ver,

feitos desfeitos, outros feitos por fazer,

pessoas tão boas ainda por nascer

e outras que morreram há tanto tempo!

Tantas lembranças de que não me lembro,

sítios que não sei, invenções que não invento,

gente de vidro e de vento, países por achar,

paisagens, plantas, jardins de ar,

tudo o que eu nem posso imaginar

porque se o imaginasse já existia

embora num lugar onde só eu ia…


Pintura de Amadeo de Souza Cardoso, 1917.