Todos os dias, durante a semana, passo junto a um longo
muro, onde os umbigos se multiplicam, levando-me a imaginar aquelas pequeninas
e sexys vénus verdes, pelo muro fora. Ao mesmo tempo que a música invade a
minha mente. Som e visão, as duas formas perceptivas que os gregos mais
valorizavam, mas não as minhas prediletas.
Bem, os gregos, mestres da beleza, pintaram os cabelos de
Afrodite de azul. Eu, pela minha parte, gosto de imaginar aquelas pequeninas
vénus verdes, que no suave toque reintroduzem em mim a energia da vegetação. Assim,
aquele muro transforma-se, modificado pelas relações que eu estabeleço e que
fazem dele uma espécie de berço ctónico, telúrico e primitivo, ligado à pátria
granítica.
O valor sagrado que as sociedades primitivas atribuíam, por
exemplo, a certas rochas, não residia nas rochas em si mesmas, mas naquilo que
representavam, porque imitavam alguma coisa, porque vinham de algum lado
especial, em suma, porque tinham em si algo diferente delas mesmas. O mesmo se
passa com o meu berço ctónico.
Se a consagração, a sacralização se fazia pela via da imaginação,
já a verdadeira participação naquele poder mágico/sagrado fazia-se sobretudo
pelo toque, bem mais do que pela litania ou pela invocação.
Pronto, fico por aqui. Até porque o chá já acabou e, agora,
os meus pensamentos são outros.
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