Albert Camus, em 1954, disse que Meursault sofria daquilo a que ele chamava a loucura da sinceridade. Referiu ainda que era esse fascínio pela autenticidade do que sentimos e do que somos, que dava sentido ao seu livro: O Estrangeiro.
Quanto a mim, interrogo-me se também eu sou esse tipo de personagem: que nunca diz mais do que aquilo que sente. O problema é que aquilo que eu sinto é repetitivo, conhecido e, naturalmente, aborrecido. Assim, para quem me perguntou, aqui fica a minha resposta: se nada digo é, apenas, por nada ter para dizer. Isto é, nada novo ou interessante. ;)
Mas, caso alguém queira saber, admito que ainda sinto a necessidade absoluta de que falava Kundera: a necessidade de criar um continuum nas minhas experiências, na minha vivência, que a realidade, pura e simplesmente, não me dá, nem me poderia dar.
Também eu tenho consciência de que existo apenas num momento no tempo e que me movo a partir de um passado, em direção a um futuro desconhecido. Desse passado trago uma curta seleção de memórias isoladas, possivelmente modificadas, certamente interpretadas. Contudo, o grande problema não é sequer a autenticidade dessas memórias, mas sim a sua fragmentação, o facto de não serem contínuas.
Se as nossas memórias são fragmentadas, não será também assim a nossa existência?
Kundera dizia que a literatura, a ficção, poderia funcionar como compensação para estas falhas, permitindo recriar, através da imaginação, esse continuum existencial, que a realidade nos nega.
Talvez, agora na minha modesta opinião, a autenticidade do que somos e do que sentimos, também só se encontre verdadeiramente na literatura. :P
Para terminar, deixo (de novo) a imagem de alguém bem menos louco do que eu, numa pintura de Gottlieb Theodor von Kempf Hartenkampf. ;)
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