Um destes dias, referi um livro antigo que li há imenso tempo: Fahrenheit 451, de Ray Bradbury. Na minha adolescência, Bradbury era dos meus escritores favoritos. Os livros dele eram para mim uma verdadeira delícia. Contudo, este Fahrenheit 451 é arrepiante, por duas razões: porque nos mostra um mundo onde os livros, considerados fontes de todos os perigos, eram queimados, sendo o grau de temperatura a que se incendeia o papel o que dá o título ao romance; a segunda razão, porque é um mundo onde a felicidade era obrigatória.
Bem, um mundo de felicidade normalizada e obrigatória quase parece o paraíso, não? :P
Contudo, para aqueles para quem «queimar é um prazer» este seria um belo mundo. :)
Houve um tempo em que me interroguei se não seria uma boa prática incendiar as coisas que me incomodavam. Mas, depois pensei: e será que iria parar? Ou, simplesmente, acabava a pegar fogo a tudo o que estivesse na origem da minha estranheza ou da estranheza do mundo. Bem, é óbvio que não fiz isso, preferi deixar que a estranheza se instalasse. E, acredita, a estranheza instalou-se mesmo! :)
E a minha personalidadezinha assemelha-se, assim, um pouquinho à da miúda que atormentava o Montag, em Fahrenheit 451:
"Ela contentou-se em rir.
- Boa noite - disse. E entrou no jardim. Depois, lembrou-se de qualquer coisa, voltou para trás e pousou em Montag um olhar curioso: - É feliz?
- Sou o quê? - gritou ele."
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