quarta-feira, setembro 22, 2010

A minha terra

Para mim a Galécia é, antes de mais, a terra: os carvalhos e as pedras que, mais do que me dizerem quem são, dizem-me quem eu sou. E quem eu sou é um eco que eu não encontro noutros lugares, por maior que seja a sua beleza ou antiguidade, o que é quase impossível de explicar a um cidadão do mundo, como o meu marido e como a maior parte dos meus amigos. Mas, mesmo não sendo entendido pelos outros, contínua a ser esse o meu sentir. E a Galécia é a terra que me diz quem eu sou.

Há lugares, por esse vasto e maravilhoso mundo, que me deslumbraram e que ficaram para sempre guardados nas minhas memórias. Há outros que me transformaram, que me deram esse sentir ainda mais raro: a chegada – o sentimento simples e, ao mesmo tempo, arrebatador de chegar, a sensação de que aquele lugar é uma meta na minha viagem. - Contudo, volto a repetir: a Galécia é a terra que me diz quem eu sou, a cada instante e a cada passo...

A paisagem agreste e montanhosa do nordeste transmontano moldou-me, desde os meus primeiros anos. Na minha infância, o rio chamava-se Tuela. E Montesinho é ainda a terra onde não há memórias das primeiras vezes, ao contrário do Gerês, que comecei visitar apenas na idade adulta, mas pelo qual senti de imediato um amor igualmente intenso. E, de verdade, poucos lugares são, para mim, comparáveis à velha Mata de Albergaria, que em cada encontro me redefine.

A primeira vez que percorri as pedras gastas da velha Citânia de Briteiros, por um estranho acaso no dia do Lughnasadh, é bem mais do que uma memória, é um instante eterno que ainda ecoa dentro de mim, recriando um momento em que me senti estranhamente inteira, como se só nesse instante tivesse encontrado uma parte de mim que eu nem sequer sabia que estava em falta.

E o que é que, nas minhas memórias, se pode comprar à chegada, quase ao pôr-do-sol, a Finisterra? O terminus de uma viagem de vários dias que percorreu toda a Costa da Morte, numa travessia de saudade, profundamente marcada pelo Espírito do Lugar.

Outro anoitecer. O final de um dia no Penedo Durão, ou a primeira vez em que parti do Porto e acompanhei no comboio as curvas do rio, saboreando o Alto Douro vinhateiro. Outras memórias, os mesmo lugares. Instantes que dentro de mim permaneceram eternos: encostas de caminhos íngremes e pedregosos, imensidão de amendoeiras em flor e a maravilha das gravuras rupestres de Foz Côa.

E para sempre a memória da subida à velha ruína de Penas Róias, também ao pôr-do-sol de um longo dia de verão, depois de um dia perfeito nas escarpas do Douro. Poucos lugares detém um significado tão absoluto, para mim. Penas Róias foi durante toda a minha infância um lugar mágico, antigo e distante. Era o cenário de muitas batalhas que alimentavam as minhas noites de inverno. Histórias contadas à lareira que partiam da Canção de Rolando e iam sendo reinventadas, numa miscelânea que, para a criança que eu era, fazia todo o sentido. A minha espada, que tantas vezes imaginei na infância e que só encontrei muito mais tarde. A minha espada maravilhosa com a cabeça de um leão no punho. A minha espada que não faz de mim uma guerreira, mas que eu tenho precisamente porque sou uma guerreira.

Uma longínqua ida a uma romaria que permanece como um dia luminoso e eterno. Um monte sagrado onde nunca mais voltei, uma das muitas montanhas da minha terra. Um santuário que mal recordo, mas guardo com carinho a memória da longa caminhada que começou ainda de noite, ao luar. Um dia intenso, pleno de alegria e de deslumbramento.

A primeira vez que me senti enamorada e o modo como, para sempre, dentro de mim, as estações de comboios e, em especial, a linha do Tua, ficaram associadas a algo que nos transporta para fora de nós mesmos, a uma estranha sensação de agigantamento.

Há muitas outras memórias, que se parecem com um sonho recorrente e que me levam sempre de volta a esta terra. Esta terra que me faz esquecer as minhas viagens por outros lugares. Esta terra que me viu nascer, esta terra onde hei-de morrer. Esta terra que é minha, porque está no meu coração. Galécia... a terra que me diz quem eu sou.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Dussaud

Le couple qui danse é o título desta fotografia, de 1981, de um fotografo maravilhoso: Georges Dussaud.
Esta fotografia está inserida num conjunto de belísssimas fotos de Trás-os-Montes e de transmontanos.
Vejamos mais dois exemplos fantásticos:

Fotografias de Georges Dussaud