quarta-feira, julho 28, 2010

O livro da Viagem

Um dia peguei num livro de Bernard Werber, que me disse que eu já tinha sido todos os meus heróis. :)

É verdade. Já fui todos os meus heróis. Fui Principezinho e fui Raposa. Fui Alice no País das Maravilhas. Fui Profeta. Fui Parsifal. Fui Feiticeirinha de Abril. Fui Messias em Dune. Fui outros, muitos outros. :)

Lembro-me que na altura pensei como era fantástico que um livro me conhecesse assim tão bem.

Hoje, contudo, lamento a compreensão que apenas encontro em livros, noutros livros, muitos livros, mas ainda e só livros. É pena, pois como insistia a Yourcenar, a vida não está nos livros.


Fahrenheit 451

Um destes dias, referi um livro antigo que li há imenso tempo: Fahrenheit 451, de Ray Bradbury. Na minha adolescência, Bradbury era dos meus escritores favoritos. Os livros dele eram para mim uma verdadeira delícia. Contudo, este Fahrenheit 451 é arrepiante, por duas razões: porque nos mostra um mundo onde os livros, considerados fontes de todos os perigos, eram queimados, sendo o grau de temperatura a que se incendeia o papel o que dá o título ao romance; a segunda razão, porque é um mundo onde a felicidade era obrigatória.

Bem, um mundo de felicidade normalizada e obrigatória quase parece o paraíso, não? :P

Contudo, para aqueles para quem «queimar é um prazer» este seria um belo mundo. :)

Houve um tempo em que me interroguei se não seria uma boa prática incendiar as coisas que me incomodavam. Mas, depois pensei: e será que iria parar? Ou, simplesmente, acabava a pegar fogo a tudo o que estivesse na origem da minha estranheza ou da estranheza do mundo. Bem, é óbvio que não fiz isso, preferi deixar que a estranheza se instalasse. E, acredita, a estranheza instalou-se mesmo! :)

E a minha personalidadezinha assemelha-se, assim, um pouquinho à da miúda que atormentava o Montag, em Fahrenheit 451:

"Ela contentou-se em rir.
- Boa noite - disse. E entrou no jardim. Depois, lembrou-se de qualquer coisa, voltou para trás e pousou em Montag um olhar curioso: - É feliz?
- Sou o quê? - gritou ele."

quarta-feira, julho 21, 2010

Um recado antigo

... numa frase de Fernando Pessoa.

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

The Ruins of the Bishop's Palace by Edith Toynbee.





Quem somos nós?

Na verdade, quem quer que nós sejamos, somos - como disse Uxío Novoneyra, a propósito de Rosalia Castro - "donos de canto vivimos plenamente, da infancia, da mocedade: do que ela [Rosalia] chama “as galas de un día” As galas de aquel bon dia de terra... Donos inda dos soños xa perdidos e voltados porque eran verdadeiros, donos da dádiva de toda a naturaleza terra. Donos dos tres tempos, presente, pasado e futuro, nun mesmo tempo".

Wuthering Heights, paperback cover by Robert E. McGinnis (American, born 1926).