quinta-feira, novembro 13, 2008

007

Eu não sou fã do James Bond, mas confesso que gostei da ideia de colocarem o tipo que fez Finding Neverland a realizar o filme. A partir daqui, não há limite. O que nos deixa numa dolorosa expectativa de saber quem vai ser o próximo realizador...

Parece que já se fala do Tarantino. Hum, mas não será um bocado previsível? Sangue, sangue e mais sangue... E, claro!, um filme que começa pelo fim. Bah!

Era muito mais interessante se fosse realizado pelo nosso Manoel de Oliveira. Sempre nos deliciávamos durante pelo menos um quarto de hora a ver o James Bond beber o seu martini... ;)

Outra opção do meu agrado era o Peter Greenaway. Bem, depois da trilogia dele sobre as malas de viagem de um gajo qualquer... aqui, o Bond teria mesmo que ser o Castelo Branco. Era um must!... E teríamos um aston martin só para a bagagem de mão do menino James, né?...

É um universo infinito... não querem dar uma ajudinha? ;)

Hum, estava a pensar no Woody Allen, mas esse não podia ser... não me parece que resistisse a atirar-nos com o seu conhecido Jimmy Bond.

O David Lynch era uma boa escolha, haveria de confundir o próprio James Bond de tal maneira que no fim, teríamos o gajo incapaz de pronunciar a sua célebre frase. Seria mais ou menos assim: “Bond”, seguida do habitual momento silêncio. Olhar confuso e desesperado. E novo silêncio, desta vez prolongado. :)

É uma pena que o Akira Kurosawa já tenha morrido, mas fica a fantasia de um Bond de orelha cortada, meramente como referência intelectual. Não era lindo lindo?...

Eu também gostava de ver o Lars von Trier a meter mãos à obra. Teriamos um camera man a correr aos saltinhos atrás do Bond e um filme de acção feito de intelectuais solavancos. :)

Quem mais?... Claro que também podia ser o M Night Shyamalan. Hehehe. Nesse caso, descobríamos no fim que afinal o Bond sempre foi uma mulher. E não era fantástico?

Resta-me terminar dizendo qual era o realizador que eu escolhia. Naturalmente, o George Lucas. Sabem porquê? Por ele colocava o James Bond numa galáxia muito muito distante. :P

segunda-feira, outubro 27, 2008

Frase do dia

A verdadeira viagem de descoberta consiste em não procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos.

Marcel Proust

sábado, outubro 11, 2008

meu senhor menino

Amor é sentir-te assim terno, suave e carinhoso
junto ao meu coração alegre e palpitante
e com murmúrios e afagares
perder-me no teu corpo
e encontrar-me... nos cânticos puros
de nomes sentidos, que repetimos
até os eternizar... nas tardes que são noites
nas noites que nascem manhãs.

Amor é saber que é o meu riso que te faz rir
que é o meu choro que tu acarinhas
que são as minhas palavras aquelas que tu escutas.

quarta-feira, outubro 08, 2008

O Poeta

















Ninguém contempla as coisas admirado.
Dir-se-á que tudo é simples e vulgar...
E se olho a terra, a flor, o céu doirado,
Que infinda comoção me faz sonhar!

É tudo para mim extraordinário!
Uma pedra é fantástica! Alto monte,
Terra viva a sangrar, como um Calvário
E branco espetro, ao luar, a minha fonte!

É tudo luz e voz, tudo me fala:
Ouço lamúrias de almas no arvoredo
Quando a tarde tão lívida se cala
Porque adivinha a noite e lhe tem medo

Não posso abrir os olhos sem abrir
Meu coração à dor e à alegria.
Cada coisa nos sabe transmitir
Uma estranha e quimérica harmonia!

É bem certo quer tu, meu coração,
Participas de toda a Natureza.
Tens montanhas na tua solidão
E crepúsculos negros de tristeza!

As coisas que me cercam silenciosas
São almas a chorar que me procuram.
Quantas vagas palavras misteriosas
Neste ar que aspiro, trémulas, murmuram!

Vozes de encanto vêm aos meus ouvidos,
Beijam meus olhos sombras de mistério.
Sinto que perco, às vezes, os sentidos
E que vou a flutuar num rio aéreo...


O Poeta, Teixeira de Pascoaes

sexta-feira, outubro 03, 2008

Poemas do passado...

A net tem destas coisas... também encontrei um poema meu que já nem me lembrava de ter escrito. Aqui fica, para registo futuro. :)

vieste nocturno e em silêncio
e sem fórmulas encontraste o meu sentir

apagaste a lua e tudo o que luzia
com a mais clara das claridades
chama que escureceria o deus solar!

na tua visão nua
foram ditas todas as palavras
evocadas todas as vontades
e foste chegada de todas as partidas

agora dormes aconchegado
o teu sono de menino
e eu guardo os teus sonhos...


Escrevi este poema há muito tempo, sem o dedicar a alguém em concreto. Esqueci-me completamente que o tinha escrito. Hoje, quando o encontrei, não consegui deixar de me sentir arrepiada... que é isto de guardar sonhos? Parece-me que o meu guardador de sonhos esteve sempre presente e que somos, de verdade, um só... Será possível?

Outra carta do passado... Beckett.

Trata-se de um texto antigo, que eu escrevi e publiquei noutro site, há milhares de anos:

«Beckett falou-nos da realidade do homem moderno, sem absoluto, sem Deus, completamente desamparado num universo hostil, desprovido de qualquer sentido. Se Sartre e Camus nos apresentaram ao absurdo, Beckett foi mais longe, atirou-nos bem lá para dentro. A sensação de estranheza, que Camus explora, é transformada na mais profunda solidão no universo Beckettiano. O herói Beckettiano é a expressão máxima do homem-matéria, mas uma matéria em decomposição, nauseabunda.

Beckett pinta nas suas telas as palavras da aproximação à morte, da infelicidade, da decadência física. Cegos, paralíticos, enfermos, mutilados. Galeria de mortos. É este o universo Beckettiano.

Beckett mostra-nos naquilo que ele diz ser a nossa verdadeira natureza: seres frágeis, incapazes de assumirmos a solidão, buscando ridiculamente companhia, iludindo-nos com tentativas de comunicação mesmo quando já não é possível qualquer comunicação, tentando fugir à dor e caindo no desespero... Enfim, Beckett vai ao mais fundo de nós e mostra-nos a nossa desesperada esperança... ainda e sempre à espera de Godot - Deus, alguém ou algo para nos aliviar o sofrimento físico e moral - mas o tão esperado Godot não vem, nunca vem.

Que mais queres que te diga? Há uma frase do livro "Malone está a morrer" que eu sei de cor: "pouco importa que eu tenha nascido ou não, que eu tenha vivido ou não, que esteja morto ou só moribundo, farei como sempre fiz, na ignorância do que faço, de quem sou, de onde sou ou se sou". Não, não é uma maldição. É a puta da realidade. Isto, meu querido, é o abismo das certezas ou da ausência delas. Tanto faz. Isto é o deserto. Mas quem é que quer o deserto? Então, sintamos. E quando acharmos que já nada sentimos, esforçamo-nos e sentimos ainda mais intensamente. Paradoxal? Mas o que é que não é paradoxal? :)

Beckett dá-nos uma perspectiva oposta à de Ionesco, no sentido em que as personagens beckettianas tornam-se cada vez mais decadentes, mais desesperadas e mais angustiadas. Nos últimos textos de beckett, especialmente em "Sobressaltos", somos atirados para o fundo do poço. Aqui a solidão e o desespero aproximam-se da loucura... de uma loucura incómoda e contagiante.

Nem imaginas como me senti assombrada durante dias depois de ler esse texto. Ainda agora, de vez em quando, a minha realidade é quebrada e eu sinto que sou transportada para esse argumento denso e absurdo. E simplesmente vejo-me a mim própria a levantar-me e ir... e sinto o intenso fascínio e a forte repulsa que provocam as personagens de Beckett, como Vladimir e Estragon.

Beckett, o homem que coloca uma das suas personagens a dizer, referindo-se à mãe, "aquela que me deu a noite". A noite e não o dia. Para beckett nascer é a maior de todas as infelicidade, nascer não é receber o dia e a luz, mas sim a noite e as trevas.

Beckett define a condição humana do seguinte modo: "nascemos, sofremos, morremos". Mas, ao mesmo tempo, afirma que nada é mais cómico do que a infelicidade. Sim, a revolta, o riso, a loucura nunca deixam de estar presentes. Que mais? Céus, como Beckett ridiculariza o amor, chama-lhe o instinto de procriação. E as suas personagens têm profunda aversão a isso de a vida simplesmente continuar. Pois, beckett foi o homem que olhou para as criancinhas e disse: "os procriadores em potência".

Diz-me: estranhas que eu leia Beckett? Bem, ele foi simplesmente genial. Sabes, o teatro dele foi designado (entre milhares de outros termos) por ateatro, no sentido em que é um teatro completamente novo, ainda que paradoxalmente mantenha uma forte identidade com o teatro tradicional. Ou com o nonsense. Hmm, permite-me uma pequena citação de memória... :)

- Todas as vozes mortas.
- Isso faz ruído de asas.
- De folhas.
- De areia.»

Ah! Aqui há uma mudança: já não leio Beckett, estou demasiado ocupada a viver cada um dos meus instantes, deste agora que me faz feliz! :)

Cartas do passado...

Quando voltei do almoço, fiquei a pensar em que medida a minha atitude mudou nos últimos anos... fui procurar-me, naquilo que eu escrevia lá pelo ano 2000. À volta do tema do Mito de Sisifio, encontrei isto:

«Liga-se muito o existencialismo aos pensadores ateus, não? O existencialismo não é necessariamente um modo de pensar ateu. Santo Agostinho e Pascal são, na essência, pensadores existencialistas. E o existencialismo de Sartre está muito longe de ser realmente uma novidade, já para não falar das influências óbvias de Heidegger (mas aqui já estou a falar por ouvir dizer, eu nunca li nem tenciono ler nada de nada de Heidegger. Hmm, que queres? Não gosto do nome do tipo. Hehehehe). Bom, mas dizia eu que Sartre foi um nadinha mais longe e atirou-nos com essa do en-soi e pour-soi. Uma classificação ontológica interessante. Mas como a filosofia não é nem de perto nem de longe a minha área, quero que se foda a definição ontológica do Ser. Hehehehe. Não te chateeis, tava só a brincar. De resto, não concordo nada que a existência humana seja absoluta, contigente, absurda. E é sempre isso que o Sartre nos quer transmitir seja na "Náusea", ou no próprio "L´être et le néant", hmm, também li duas peças de teatro dele: "Os Sequestrados de Altona" e "As Mãos Sujas". Mas quanto a isso de teatro, prefiro de longe Samuel Beckett.

Bom, mas claro que o homem não era parvo de todo, aliás, não era nada parvo. Não cometeu o erro do Hegel de fazer do nada "algo"... quero dizer, que não lhe atribui nomes, coisas, substantivos. Sabia bem que o nada é simplesmente nada. Pois é, parece uma verdade à La Palice, mas vê lá se muitos filósofos chegam lá... ;). Falta-lhes uma disciplina de Lógica no currículo, mas que havemos de fazer? :P

Camus. Ai de mim, eu simplesmente adoro Camus, é uma reminiscência do meu passado da qual não me consigo libertar, nem quero. Quando li "O Estrangeiro" e "O Mito de Sísifo", a minha vida mudou. Bom, mas na altura eu tinha aí uns 17 anos, ou menos. Não importa, o que é certo é que a minha vida mudou mesmo. Mas nem vou falar disso...

Sim, sim, é outro dos senhores do absurdo, mas quanto ao Camus... eu simplesmente não consigo dizer mal. Que queres? É assim, como poderia nem ser, mas é. Gostei particularmente da "Queda" e da "Peste", qualquer um deles, acho-os magistralmente escritos. Depois, li tudo (ou quase tudo) o que havia para ler do homem... Porque não?

"O Mito de Sísifo" influenciou-me muito, sobretudo nisso de imaginarmos o Sísifo feliz, sim, feliz. Não achas a ideia admirável? Sísifo continuamente a carregar a rocha dele montanha acima e, ainda assim, feliz. Sabendo sempre que a rocha haveria de rolar monte abaixo e que ele teria que a carregar de novo. É o tipo de determinação em que eu acredito. Creio que, de facto, interiorizei essa determinação em ser feliz, apesar das merdas com que o mundo me atira. Interiorizei essa determinação em acreditar que a humanidade é fundamentalmente boa, apesar de ter sido, algumas vezes, mutilada por seres humanos que nada valiam. Só não interiorizei foi a absoluta falta de sentido da vida, o absurdo. Não, para mim a vida tem todo o sentido que eu quiser que tenha, todo o sentido que eu for capaz de lhe dar.

"O Mito de Sísifo" mostrou-me também a rotina, a terrível rotina. Levantar, 4 horas de trabalho, almoço, mais 4 horas de trabalho, jantar, ver televisão, deitar e levantar outra vez. Com o Mito de Sísifo o meu porquê levantou-se e eu comecei imediatamente a lutar contar a rotina, antes ainda de ela ter qualquer hipótese de se instalar. E é uma luta da qual não abdico...

"O Homem Revoltado". Sim, senti fortemente o desesperado confronto entre a interrogação do homem e o silêncio do mundo. Mas já deixei de sentir que a vida seja absurda. "Se em nada se acredita, se nada possuí um sentido e se não podemos afirmar nenhum valor, tudo se torna possível e tudo carece de importância". Mas deixemos isso...

Sabes, continuo a acreditar na felicidade como destino. E o mundo atira-me com sofrimento. Mas que importa isso? Eu tenho o direito de continuar a acreditar naquilo que bem quiser, enganar-me se preciso for. Ou não tenho? Voltando ao homem revoltado: "à falta de uma felicidade incansável, um longo sofrimento ao menos constituiria um destino. Mas não, as nossas piores torturas terão um dia que acabar. Certa manhã, após tantos desesperos, uma irreprimível vontade de viver virá anunciar-nos que tudo acabou e que o sofrimento não possui mais sentido do que a felicidade." Ora, eu sei muito bem que não há verdadeiros destinos, ou pelo menos que não há destinos com sentido, mas que raio me importa isso? Eu acredito e pronto. Acredito na felicidade e no amor. E luto por eles. E como eu não me sinto disposta a desistir de lutar, hão-de aparecer, é que nem poderia ser de outra forma.

Mas, por vezes, canso-me, sabes? Por vezes, tenho vontade de fugir, de negar tudo isto. Mas eu não fujo, logo...

Bom, voltemos à literatura... Dostoievsky, para terminar, "Pode uma pessoa viver e manter-se dentro da revolta?" Nada sei quanto ao resto do mundo. Mas eu posso, a minha revolta em aceitar a falta de sentido da vida, dá-me a minha paixão de viver. A minha revolta em aceitar que a rotina se instale, dá-me a excentricidade e a loucura que dão cor ao meu mundo. A minha revolta em acreditar que a humanidade é uma merda, dá-me ágape. Olha, gosto de ser uma revoltada, hehehehe. E pouco me importa o que o resto do mundo pensa das minhas crenças. :)

Pronto, fico por aqui. Espero que tenhas um dia feliz, minha querida.»

Na verdade, muito pouco mudou... e eu continuo a ser quem sempre fui. :)

Carta para um amigo ausente

Olá, meu querido. :)

Há já muito tempo que não te escrevo, não há? Querido, tu estás sempre no meu coração. E sabes bem que eu nem sequer acredito no tempo e na distância, de modo que está tudo certo. ;)

Sabes, o meu mundo continua estapafurdiamente feliz. Ah! Não me perguntas porquê... sabes bem que não é preciso razões para se ser feliz. Eu adoro tudo isto, estes instantes em que te apetece sorrir e sorris, sem necessidade de razões transcendentes. Cada vez mais sinto que a vida é simplesmente maravilhosa. E, obviamente, sou suficientemente infantil para o dizer e repetir as vezes que me apetecer... hehehehe.

Aqui neste blog, tenho um pequeno post sobre o Míto de Sísifo. Diz o seguinte: Camus disse que era preciso imaginar o Sísifo feliz – actualmente eu não consigo conceber um Sísifo que não seja feliz. Sim, mesmo carregando a rocha montanha acima, mesmo sabendo que a rocha chegará ao topo do monte e necessariamente rolará até lá baixo e tudo recomeçará de novo... não vejo a inutilidade de outrora. Pelo contrário, vejo instantes profundamente significativos. Vejo a pausa reconfortante, o olhar que se deslumbra com a beleza da montanha, os olhos que se fecham suavemente sob o sol intenso. Será preciso algo mais?...

De certa forma, creio que já não quero um destino, o caminho esbate-se um bocadinho e é a caminhada que passa a ser cada vez mais importante.

Ok, voltemos ao mundo real. :)
No meu mundo real, os meus amigos estão fartinhos da minha contínua felicidade, para eles é um bocadinho como a cena do Tarantino no programa do Conan, em que ele disse que foi ver um filme qualquer romântico, com uma história simples e feliz, sem grande dramas, e quase teve que ligar para a linha de apoio a suicidas. :)

Por isso escrevo-te a ti, meu querido, pois sei bem que tu não achas toda esta minha felicidade enjoativa. Quanto a mim, hum, que posso dizer? Nem imaginas a quantidade de pessoas que me telefonam quando estão mal e só quando estão mal. Começo a ver que perco o meu tempo, pois nada do que eu diga parece fazer qualquer diferença e, o que é ainda pior, por vezes perco também a minha boa disposição. Eu não consigo que a minha felicidade passe para eles e, muitas vezes, acabo esgotada e triste. Às vezes, parece-me que eles não querem ser felizes. Ou, então, já estão demasiado habituados à complexidade que criaram nas suas vidas. E a felicidade é uma coisa simples.

Meu querido, eu sei muito bem que uma das coisas que me deixa feliz é precisamente o amor que há na minha vida. Eu amo profundamente o Alexandre e sei que sou amada. Essa vontade de um amor verdadeiro e correspondido foi uma das mais profundas necessidades que eu tive ao longo da vida. E só quando o alcancei é que consegui acalmar e ser verdadeiramente eu própria. De modo que eu entendo a necessidade deles, entendo o desespero deles que, na maior parte das vezes, passa por relações amorosas infelizes. No entanto, quando eu lhes digo que esse tipo de realização só depende de cada um de nós, aborrecem-se. Sim, sei bem que se escutarmos a maioria das pessoas, hão-de desencantar milhões de razões que nos mostrarão como isso é ridículo, que, para começar, o amor verdadeiro nem sequer existe ou, se existe, é por mero acaso. Não é, digo-te eu. E, acredita, eu sei do que falo. Saberão também eles?...

Um amor intenso e verdadeiro, um amor correspondido, um amor que dê cor e alegria à nossa vida, é na verdade um milagre, mas um milagre que depende de nós. Temos que o plantar bem fundo no nosso inconsciente, temos que o fazer germinar e alimentá-lo para que continue sempre a florescer. Sim, temos que tratar dele sempre, porque ainda que nasça e floresça, se nos esquecermos de o alimentar, seca e morre. Mas depende sempre de nós, da nossa dedicação. No entanto, não é fácil. E é exactamente por isso que muitos não o vivem, porque ficam-se pelas conhecidas soluções de facilidade... de que se queixam, então?

Digo-lhes que têm que pensar no amor que há-de vir como se já existisse. Peço-lhes para não se sentirem ridículos e de modo algum falarem nisso... há que manter o segredo, isso ajuda a acreditar. Se dedicarem os primeiros e os últimos momentos do seu dia a esse amor que querem, se o imaginarem, se acreditarem nele, sem particularizarem em relação a uma ou outra pessoa, se sentirem que esse amor intenso de alguém que já está na sua vida, mas que ainda não conhecem pelo nome, é real... então, acontecerá de verdade, será real.

Há um filme engraçado, que eu gosto muito, Amor e Vacas, de Harry Sinclair. Bem, o filme é simplesmente delicioso. Conta a história de uma mulher que vive um amor feliz mas, deixa-se levar por medos irracionais e quase perde o homem da vida dela. A história começa quando ela por descuido atropela uma mulher idosa, que acaba por não sofrer nada. Ainda assim, percebe-se que ela se sente culpada. A mulher entretanto diz-lhe para ela se manter quente, aconchegada. E isso desencadeia o medo dela, o medo de que a relação de algum modo arrefeça... a partir dali, tudo se torna hilariante mas comovente, complemente estranho mas ainda assim real naquilo por que se luta. E mostra bem como nós temos sempre crenças... às vezes, estão é mal direccionadas. Às vezes acreditamos no que só nos faz mal. Tememos que a felicidade acabe e, naturalmente, a felicidade acaba. Outras vezes, temos medo que a felicidade nunca apareça... e não aparece. Para quê ter medo?...

Por falar em filmes, domingo vamos ver Nightwatching, do Greenaway. Bem, já nem me lembro há quanto tempo não vejo um filme do Peter Greenaway no cinema. :))

Bem, tenho que ir, vou almoçar.

Até amanhã, doçura. :)

terça-feira, setembro 30, 2008

Receita de queijnhos de bolota

Receita do livro de Soror Maria Leocádia Tavares de Sousa, que professou no Convento da Conceição de Beja.

Ponha 500 g de açúcar em ponto de cabelo e deite 500 g de bolota, pelada e ralada. Junte uma clara de ovo e um pouco de canela. Retire do lume depois de ferver e deixe arrefecer. Com esta massa fina, molde com as mãos uns queijinhos, metendo no meio recheio de ovos-moles.

Fonte: Sociedade agrícola do Freixo do Meio

Nota: esta receita utiliza as bolotas doces, provenientes da azinheira. Se se quiserem usar bolotas de carvalho, é necessário proceder em primerio lugar à eliminação dos taninos em excesso.

domingo, setembro 14, 2008

Pequenos almoços de fim-de-semana

Chá e scones...


De vez em quando, convido alguns amigos para tomar chá, em locais absolutamente fantásticos, onde certamente não há nenhum salão de chá, o que me obriga a levar tudo, do bule às chávenas, scones, brioche e algumas das minhas compotas caseiras. :)

Hmm, é certo que esses momentos extraordinários dão imenso trabalho… mas também criam memórias. :)

quinta-feira, julho 24, 2008

Ainda e sempre Kahlil Gibran

Ainda ontem pensava que não era
mais do que um fragmento trémulo sem ritmo
na esfera da vida.
Hoje sei que sou eu a esfera,
e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.

Eles dizem-me no seu despertar:
«Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia
sobre a margem infinita
de um mar infinito.»

E no meu sonho eu respondo-lhes:
«Eu sou o mar infinito,
e todos os mundos não passam de grãos de areia
sobre a minha margem.»

Só uma vez fiquei mudo.
Foi quando um homem me perguntou:
«Quem és tu?»

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

mundo real

A criança que brinca com os meus sonhos
ri de mim e da minha adulta descrença...

Eu falo-lhe de despertadores, oito horas de trabalho,
rotinas e preocupações, correrias e cansaços...
e ela mostra-me lugares eternos e imutáveis
onde, diz ela, eu continuo inteira
onde eu sou quem sempre fui ou serei...

Eu acredito na criança
e brinco com o tão celebrado mundo real...
pouso a chávena do meu café da manhã no chão
perto da pedra de Intihuatana em Machu Picchu,
passeio à hora do almoço pelo deserto de Gobi...

E a criança ri quando aqueles que não sonham
me atribuem um rótulo e pensam que isso é que é real...

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

mundos

Olho o mundo fora de mim...
não me é revelada nenhuma verdade
não vejo sentidos para encontrar ou perder
não tenho a luz de um dia iluminado
nem a noite é noitíssima...

Sorrio e sei que estou a olhar para o lado errado
só em mim se encontra o meu caminho
o meu sentido e a minha verdade...

Olho o mundo dentro de mim...
perfume de flores silvestres, de ervas e de romã
azul transparente no apelo do sol
frescura refrescante da água cristalina
e repouso dos prados verdejantes...

entre o dia e a noite...